Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sem gato na tuba


Os instrumentos de uma Banda de música estão divididos em sopro e bateria. Todos os instrumentos possuem características próprias, colocando-se numa apresentação, segundo as conveniências do Mestre e dos músicos presentes. Há, de certa forma, uma preferência em dispor os músicos por naipes ( por naipe entende-se cada um dos grupos de instrumentos em que é dividida a orquestra. ) E, embora o número de componentes de uma Banda não seja específico,  para cada instrumento de percussão deve-se  ter , pelo menos, quatro de sopro.
Em 1994, quando da realização do III encontro de Bandas de Barão de Cocais, recebi a mais linda homenagem... Os músicos de 27 bandas executavam sob a regência do Maestro João Paulino, uma música que me faria chorar. Cada instrumento dizia, com sua própria voz: "amo você assim e não sei porquê tanto sacrifício...Coisa bonita, coisa gostosa, quem foi que disse que tem que ser magra para ser formosa?"
A música prosseguia... linda em harmonia, linda em emoção, linda... Cem por cento linda! As pessoas começaram a dançar e aquilo virou uma grande festa. Uma festa que jamais sairá  de minha memória.
Em 2005, para comemorar o 100º aniversário da Banda Santa Cecília, de Barão de Cocais, realizamos o IV Encontro  de Bandas , considerado um dos maiores eventos do gênero que se tem conhecimento no Estado de Minas Gerais e que contou com a participação de 34 bandas de diversas cidades mineiras.
E a nossa velhinha banda continuou linda e viva, cada dia melhor, diga-se de passagem, tendo comemorado, dia 15 de abril, 107 anos de existência! A festa de seu aniversário contou com a presença de 07 bandas das cidades de Campo Belo, Timóteo, Catas Altas, Ouro Preto, Mariana, Santa Bárbara e Sabará. Uma banda visitante para cada ano vivido após pó seu centenário!
É comum se dizer que todo mineiro tem um trem de ferro nos olhos, uma Banda de música tocando nos  ouvidos e a cor das montanhas nas veias... Em Barão de Cocais não é diferente... O trem de ferro apita nas curvas, a cor do  minério  de suas muitas montanhas tinge os pés e as almas dos cocaienses e a Banda de Música tem lugar de honra nas praças e nos corações de muitos!
Um dia, em 2007 a Banda Santa Cecília tocou em minha homenagem. Era minha posse na AMULMIG e eu recebia, oficialmente, a imortalidade dos acadêmicos e a “VALSA PARA REGINA CÉLIA” Muitas emoções.
Por fim, um dia, a tuba do Serafim abrigou um gato e a melodia nascida no coreto do jardim ganhou miados  sofridos que repicam, ainda, alegres e memoráveis  notas dos seus cantantes.Mas todo domingo havia banda no coreto...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Alma em Plumas



Uma vida é um pulsar frenético dos pulmões e do coração. Tive, certo tempo atrás, uma vida em minhas mãos... Um nada, um nadica sem peso nem tamanho, uma pequenina alma revestida de uma plumagem indescritivelmente colorida.

Um beija-flor.

 Vítima de um acidente de percurso, tombou mortalmente ferido e por horas teve o socorro e a atenção possíveis de alma semelhante, que ama a natureza o céu e a liberdade...

Algumas gotas de néctar e a vida volta a pulsar. Respiração ofegante e alma desprendendo das penas, a morte ronda paciente aquele nada que roubou minhas horas e meu sono. Resistia, ameaçava voar, cansava-se, dormia...E meu olhar atento já amava aqueles olhinhos redondos que, às vezes, buscavam reconhecimento do ambiente que lhes era estranho.

Ao prenúncio do dia dera sinais de despertar. Pus-me a contemplá-lo com ternura e a mim, parecia estar bem.

 Pregara-me uma peça.

Pela manhã apenas as plumas repousavam sobre a caixinha marrom. A alma se desprendera com o raiar do sol e eu nunca mais serei capaz de olhar um beija-flor com os mesmos olhos que os viam antes. Sei agora que são apenas lindas almas que voam e que precisam de doçura para seguir seu rumo. Ternura não lhes basta. Meus olhos têm sabor salgado de lágrimas

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*Ao receber uma mensagem de João Candido, lembrei-me de um fato ocorrido e registrado que agora volto a expor. Obrigada João!! Texto recuperado. Escrito e publicado por mim em algum lugar e tempo passados. Atualizado para o blog.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Agonia dos Sinos da minha terra



Os católicos diziam que os sinos indicavam a presença de Deus no local, especialmente nas igrejas, daí a tradição de se entoar um sino sempre que o momento da celebração merece um destaque maior, como na hora da consagração. Segundo os antigos, ao badalar o sino, chama-se a atenção de Deus, que observa e ouve a prece com mais concentração.

O termo sino deriva do latim signum, ou sinal e era utilizado para os rituais religiosos, um deles era levar os fiéis à igreja. Houve um tempo em que a linguagem dos sinos era entendida por todos. Os sineiros comunicavam nascimento, agonia, morte, as diversas ações litúrgicas da igreja católica; chamavam a atenção para algum fato realmente relevante como incêndio e perigo. Tocava-se o sino e a notícia corria logo a comunidade.

Com o passar do tempo (porque ele sempre passa...) a linguagem dos sinos foi sendo substituída pelas ondas do radio, pela televisão, pelo papel impresso, pela internet e o mundo se fez surdo ao silencio dos sinos.

Minha avó Dora , que pertencia a diversas irmandades da igreja católica, dizia que quando morresse queria que os sinos entoassem bambalalão, por isso mantinha os pagamentos das anuidades sempre em dia... Bambalão era um repique lento, mas dobrado. Próprio pra anunciar o passamento de um irmão.
Se o defunto não era das irmandades, ou era um pé rapado qualquer, o sino entoava apenas o “tem nada não, tem nada não”e isso ela não queria!

Meu pai, ministro da Eucaristia e devoto de São Miguel, era sineiro nas celebrações da comunidade e o sino badalava bonito e ritmado nos dias de reza e mais bonito e eufórico ainda nos dias de missa.... Meia hora antes do início e ao aviso da entrada do celebrante. Saudades do meu velho...

Diz a lenda que se um fio de cabelo de mulher entrar em contato com o sino de uma igreja ele trinca e isso é o que de pior pode acontecer ao sino!.Por isso a missão quase que exclusivamente masculina.

Mas então vieram maneiras mais práticas de se comunicar e os sinos foram rachando, calando, silenciando... Os antigos foram partindo sem repiques e ninguém dobrou o sino na agonia do próprio sino!

Hoje os sinos, pelo menos aqui em Barão de Cocais, quase já não comunicam... Continuam sim tentando chamar a atenção de Deus durante as celebrações, mas esse badalar dos sinos mineiros, que desde 2009 é tombado como patrimônio imaterial nacional, ainda não retomou seu lugar de honra no nosso dia a dia. Por quem os sinos dobrarão?

domingo, 1 de abril de 2012

A Filha de Orfeu


Segundo estudiosos, a Lua se originou quando um planeta chamado Orpheus colidiu com a Terra a quatro bilhões de anos. Ela tem um quarto do tamanho do nosso planeta, com um diâmetro de 3.476 km, e está a aproximadamente 384.403 km de distância de nós.

Numa incursão mitológica, descobrimos que Orfeu era filho do deus Apolo e da ninfa Calíope; tendo herdado do pai uma lira que, uma vez tocada por suas mãos, revela um canto tão primoroso que nada nem ninguém consegue se manter imune a sua magia. Até as feras mais selvagens amenizavam sua ira diante das notas extraídas deste instrumento, que praticamente as hipnotizava. Mesmo os arbustos cediam aos seus encantos.

Isso explica o porquê da lua cheia de meses, redonda, brilhante, majestosa influenciar nas ações da agricultura, da beleza, do mar, da própria natureza!

Lua cheia de março... Que mistérios possui essa lua que causam tanto encantamento? Até as águas que fecham o verão paralisam-se para que ela se sobressaia soberbamente nos céus de março, mesmo a uma distância de 384.403 km da terra!

Parece fitar-nos enquanto clareia a marcha dos tropeiros de Ipoema, a fila comprida dos devotos de São José do Brumadinho (este ano abençoados com a maior lua cheia dos últimos 20 anos!), os fieis das solenidades da Semana Santa...

Lua cheia de março traz consigo os ventos das tardes de outono que varrem as árvores, lhes carrega todas as folhas secas e anuncia o balé dos galhos sobre a terra solta, possivelmente ao som da Lira, numa coreografia ensinada por Eurídice.

A lua cheia, filha de Orfeu, casada com São Jorge, testemunha juras de amor, inspira poetas e cheia de si, contempla os suspiros de sua inalcançável beleza.