Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Falando Sério


Passei a tarde ouvindo Chico E dentre as suas belas canções ouvi , repetidas vezes, Tanto mar, que reverencia a “Revolução dos Cravos”, a qual pôs fim a uma longa existência da censura e ditadura de Salazar nas terras lusitanas. O cravo vermelho, símbolo da nação portuguesa, foi distribuído pela população agradecida, aos soldados que se rebelaram contra o regime salazaista, que o exibiam nas lapelas, nos rifles e canhões, simbolizando também a paz. Vontade de ter estado lá!

E vem o grito pacifista antinuclear de Rosa de Hiroshima, retumbando no fundo de nossas mentes e corações como espasmos antiatômicos; O fino do brega entoa “E viva a Rosa”, nos barzinhos , os músicos não param de cantar velhas cantigas, que desejam que o cheiro de uma flor perfume a América do Sul ou que prometem:na mão direita rosas vou levar!

Drummond associa a Flor e a náusea e garante: Uma flor nasceu no asfalto. É feia, mas é uma flor! E a essa altura do campeonato, uma rosa nunca mais desabrochou...Volta o Chico cheio de interrogações sobre o que está havendo com as flores de seu quintal: O amor-perfeito, traindo; a sempre-viva, morrendo e a rosa, cheirando mal! Falando sério... eu queria não falar.

Sinto coçar a palma das mãos e quando isso acontece, falo pelos cotovelos.

Intuem-me os anjos de luz a falar pelos oprimidos, pelos desvalidos e fracos. Os mosqueteiros se travestem de anjos e fazem-me crer no amor, na justiça e na paz...

Falando sério, eu queria não falar...

Mas pra não dizer que não falei das flores - tal como Vandré! – Aproxima-se a primavera e os jardins explodem em botões multicores... Os ipês amarelos estão que é uma beleza!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um Toque


Ao longo de nossa existência tocamos as pessoas... às vezes de forma muito direta e profunda, às vezes superficialmente, noutras quase não se sente o toque, mas não passamos desapercebidos. Nossos gestos, nossas ações, nossas intenções afetam aqueles que nos cercam, inevitavelmente. É como um deslocamento de ar... um sopro, um vento...

Um levantamento superficial nos aponta as principais movimentações de ar e que podem ser comparadas à maneira como tocamos as pessoas:

Vento: termo genérico que identifica o ar em movimento, independente da velocidade

Brisa: é um vento de pouca intensidade,

Ciclone: Caracteriza-se por uma tempestade violenta com velocidade superior a 50km/h

Furacão/tufão: vento circular forte, com velocidade igual ou superior a 119 km/h.

Vendaval: vento forte com um grande poder de destruição, que chega a atingir até 150 km/h. Ocorre geralmente de madrugada e sua duração pode ser de até cinco horas.

Tornado: é o mais forte dos fenômenos meteorológicos, menor e mais intenso que os demais. Com alto poder de destruição, seus ventos atingem até 500 km/h.

Arroto (nome vulgar para eructação), freqüentemente acompanhada de som característico, ocorre quando gases do estômago são expelidos através da boca. É causada, em geral, pela liberação do ar engolido ou de dióxido de carbono produzido no estômago.

Pum, Peido, Flatulência ou flato (do latim flatus, sopro) é uma ventosidade anal que pode ser ruidosa ou não e tem um cheiro fétido

Parece engraçado, mas o que fazemos é como o vento! Não se vê, não se aprisiona, mas não dá pra não sentir. Você já parou para verificar de que forma toca as pessoas: Qual o seu poder de ação sobre elas? Quais os efeitos você deixou depois que partiu?

Quantas vezes você é uma brisa que refresca, acaricia e faz sentir bem: Quantas vezes é um ciclone ou um tufão que faz temer, é violento e assustador?E aquelas brigas de madrugada, que parecem não ter fim, não podem ser comparadas a um vendaval que destrói sonhos e projetos? Um tornado... esse atinge ainda mais pessoas! Seu poder de destruição é arrasador e deixa um rastro de tristeza e sofrimento (Deus nos livre de agirmos como um Tornado!). Coisa triste é tocarmos as pessoas pela boca... como um arroto! Palavras ditas em ocasião inoportuna que podem causar constrangimento e mal estar... e o Pum então? É o que geralmente precede uma cagada. Se de repente seus gestos começam a afastar as pessoas e elas não resistem a uma cara de nojo, cuidado! Você está prestes a jogar titica no ventilador e isso não é nada bom!

domingo, 21 de agosto de 2011

Contrapondo o constrassenso



Viver em uma cidade do interior, em franco desenvolvimento, localizada dentro de um raio de cem quilômetros da capital, tem vantagens e desvantagens. A sobrepujança da manutenção da cultura e da tradição, níveis menores de violência, acesso à natureza, patrimônios e sitios são algumas das características incluídas nas vantagens. As desvantagens, por sua vez, se aplicam à inevitável aculturação, que modifica as tradicionais performances interioranas, às ínfimas oportunidades de lazer e entretenimento, à absoluta falta de concorrência que inflaciona o custo de vida, aos cartéis instituídos, ao pseudo- poder dos playboys filhos de papai ou bastardos filhos do meio social. E é neste aspecto que firmaremos nosso olhar.

Frutos viçosos de uma geração emergente, mal completam 18 anos e já possuem um automóvel. Os de pais abastados circulam com veículos importados. Outros possuem veículos mais populares, mas com algo em comum aos primeiros: o estrondoso dom automotivo, que, não raro, valem mais que o próprio carro!

Interessante, mas fora da meta proposta, é que os rapazes das gerações anteriores sonhavam, com um carro, lutavam para adquiri-lo, a fim de levar a namorada para um passeio, uma viagem, etc. Hoje, tão logo deixam os cueiros, assumem o volante, enchem os carros de outros rapazes e saem desenfreadamente pelas ruas, mesmo que numa cidade do interior, como Barão de Cocais. Deve ser a já citada aculturação, que modifica os modos e costumes, não é mesmo?

Pois bem, esses a quem chamo de pseudo- pderosos não são tão pseudo assim! Detêm o poder sobre quem pode ou não pode se conservar no sagrado recinto de seu lar e ver TV, ler um livro ou dormir em paz. Decidem quem e onde se pode encontrar amigos e bater papo, em tom normal de voz, sem ter que gritar

Coisa desagradável é ter que compartilhar com esses rapazes uma música, num som fora dos níveis de tolerância, que causa estresse e irritabilidade, perturba o sono, trinca as vidraças, além do duvidoso gosto musical de seus divulgadores.

Eguinha Pocotó, Popozudas, Tapinhas que não doem, Rebolations, enfim, Axé, Sertanejo universitário, funk , pagode de corno... É tanto lixo ao gosto popular, que cada um deveria curtir de forma privativa, com fone de ouvido, no sagrado recinto de seu lar...

Gosto sim de MPB, de clássicos, um pouco de pop rock nacional e internacional... Tenho minhas preferências musicais e me dou ao prazer de ouvi-las em meu quarto. Os motoristas que trafegam pela minha rua não são expostos ao meu gosto musical, nem os pedestres ou os vizinhos... Por que teria eu que conviver com o contrário?

Como se já não bastasse, tem ainda as propagandas volantes, o carro do peixe, o vendedor de abacaxis, o evento que vai ser realizado, a queima de estoque da loja de confecções, a sessão de desencapetamento de alguma igreja, o circo que chegou...

Em que pesem as leis, favorecem o bem estar e é dever do Poder Público, das Polícias e do Ministério público zelarem para que essa algazarra, proveniente da emissão irregular de ruídos, ou sons não ocasionem perturbação à segurança viária, ao sossego público e ofendam o meio ambiente, afetando o interesse coletivo e difuso de um trânsito seguro e da qualidade de vida, resultando, na maioria das vezes, em desconforto, indignação e descrédito no cumprimento da legislação.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

In Extremis



Saudade Crônica (ou Crônica da Saudade)

Nos últimos dias, a despeito de um merecido descanso, agarrei um modo profundo de repensar a vida... Sobrevieram-me sentimentos confusos, doces, amargos, estimulantes, interrogativos, novos, derradeiros. Todo antagonismo próprio de quem pensa. E logo, existe.

Reli alguns poemas meus e três excertos poéticos levaram-me a escritura deste texto: 1 – “ A angustia dói”; 2 – “Sou fraca pra dor e aquebrantada de solidão”; 3 – “Sofro de saudade antecipada”.

Quantas e quantas vezes somos acometidos por dores que não são físicas, mas doem? Quantas vezes sofremos mesmo não sabendo discernir o que é angustia e o que é saudade? Não seria um tipo de doença?

Por definição, uma Doença crônica é uma doença que não é resolvida num tempo curto, definido, usualmente, em três meses. As doenças crônicas são doenças que não põem em risco a vida da pessoa num prazo curto, logo não são emergências médicas. No entanto, elas podem ser extremamente sérias, e várias doenças crônicas, como por exemplo, certos tipos de câncer, causam morte certa.

Seria a saudade uma doença crônica, uma vez que, comumente, dura e dura e dura...?
No dicionário Aurélio, saudade significa: “Lembrança nostálgica e ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia”. “Pesar pela ausência de alguém que nos é querido”.

Como sentimento ou sintoma, sua existência é global, convivemos com ele diariamente. Já como vocábulo não. Apenas a nossa Língua Portuguesa se atreveu a defini-la e traduzi-la , em virtude de sua riqueza semântica. Temos o privilégio de sentir tudo o que pode ser entendido, mundialmente, como saudade e definir tudo em uma única palavra: saudade!

Nenhuma outra língua, por mais que tenha usado de recursos lingüísticos e vocabulares, conseguiu expressar com precisão seu real significado.

Mas a saudade não escolhe povos ou línguas! Ela existe. Simplesmente existe. De repente um cheiro, uma música, uma fotografia podem arrancar dos nossos corações um suspiro, uma lagrima de saudade, um rio de dor, o desejo desesperado do reencontro!

E a gente, a confirmar a Bilac, “Certo perdeste o senso!” e a desejar, no íntimo “Nunca morrer assim, num dia assim! De um sol assim...”

sábado, 13 de agosto de 2011

Inquietude


Alegria é uma coisa que deve ser sentida todo dia. Meu coração inquieto a quer o dia todo. Isso me incomoda! A alegria desfrutada na companhia de Clara, Mel, Gabriela, Duda, Maria Laura, Larissa e Maria Heloisa deveria ser oportunizada a todos, mas ao meu anseio de alegria não cabe a partilha.

Esses seres que explodem alegria por onde passam deveriam ficar sempre perto de mim. Confesso, mas rejeito penitências! Ora, afinal, há outras fontes de alegria que podem alegrar os corações alheios, já o meu, inquieto, contenta-se fartamente com essas meninas... Cada qual com seu gênio e características próprias.

Anna Lívia já anunciou que se aproxima e que pretende encher o coração da velha tia de muita satisfação. À novidade, meu coração palpita alegre já.

E elas crescem em tamanho e sabedoria.

E meu coração, inquieto, indaga o que virá no futuro.Seus filhos alegrarão corações? O amor os protegerá das aflições?

Ah coração... viva o momento presente enquanto inquietude das horas permite que se folgue!

Pó de ferro


Desde muito criança convivi com dois enormes jatobazeiros bem rentes à divisa de minha casa com a rua. Um cutucava o céu com frutos de dois ou três caroços, já o outro tinha os frutos pequenos, de um caroço só e era bem difícil de ser partido (não fosse o martelo de papai...)

Pois bem, cresci com as bochechas esticadas com um caroço de jatobá de cada lado e os dentes esverdeados e preguentos daquele pozinho com cheiro de ... de... Sei lá, acho que é de chulé!

As árvores davam a impressão que o quintal começava na frente da casa. Durante todo ano sujavam a rua, os jardins, as hortas e os telhados com quilos e quilos de folhas. Vez ou outra uma pedra se arriscava, vinda de não sei onde, pra derrubar um de seus frutos e esverdear os sorrisos dos garotos.
Sempre tinha alguém pedindo para retirar lascas da casca do pé de jatobá para algum daqueles remédios milagrosos.

Geralmente, essas árvores que curam formam feridas ao redor do tronco, que interrompem o fluxo de suas seivas e acabam morrendo... Deve ter sido isso que aconteceu com os jatobazeiros de minha infância. Não me lembro.

Mas lembro-me bem dos jatobazeiros e seus frutos... Isso me fez enveredar na net a procura de “pra que servem” e não é que têm muita serventia? O jatobá é considerado um fruto místico pelos índios da América Latina, sob a crença de que trazem equilíbrio para os desejos, anseios e sentimentos. Os cientistas comprovaram!Da sua casca é fabricado o velho e conhecido chá, que é exportado para a Europa e EUA com o nome de vinho de jatobá (estimulante e fortificante) e o pozinho “cheiroso” e comestível é rico em ferro e outros nutrientes.

Lembro-me também que em certa época do ano, as imensas árvores se enchiam de ramas de maracujá doces, mas mamãe não permitia que colhêssemos tais frutos, alegando que eram comida de cobra (crendice, é claro), mas uma prova irrefutável – quase irrefrutável!- da mãe natureza, que organizava frutos estimulantes e calmantes numa mesma copa, ambos ricos em ferro e outros nutrientes para uma infância saudável na antiga rua Belo Horizonte.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Um réquiem para Luiza


Quando as estrelas cintilam mais brilhantes nos primeiros minutos do novo dia, a lua de Luiza despista seu contentamento. A escuridão está no seu auge e o céu é mais negro para nós, que ficamos em terra enlutada.

Luiza, no entanto, encontra a mais luminosa luz na face oculta de sua lua e é recebida com júbilo e festa pelos anjos de Deus.
Sua longa jornada aqui na terra chegou ao fim e seus olhos se fecharam para sempre.

Nunca mais se acumularão néctares em seus cantos e nunca mais os veremos brilhar diante dos livros que tanto amava e das leituras que acalentavam sua longevidade.

Seu coração, já velhinho, insistia em bater, mal sabendo que há anos apanhava. Luiza agora descansa seu coração fatigado.

Os pássaros convocados a cantar para Luiza emudeceram. A Banda Santa Cecília não ensaiou o réquiem de Luiza e a menina-passarinho ainda é muito nova para executá-lo!

O silencio perdura. As palavras não significam tanto, mas eu desejava um réquiem para Luiza.

Luiza, solte as amarras que prendem seu corpo a terra e vai em paz! Que os anjos lhe guiem, querida vovó!