Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sábado, 4 de agosto de 2012

Apenas



O tempo não nos pede muito... Apenas um pouco de cada vez, mas é implacável! Não poupa ninguém e a todos deixa a marca de sua passagem, seja física ou emocionalmente...

Os avanços tecnológicos, a medicina e a ciência passam o tempo tentando minimizar as marcas do tempo e equalizar as suas afetações.

As rugas aparecem, o corpo fica flácido, os cabelos se orvalham, os olhos serenizam ... quase sempre é assim.

O que, de fato, o tempo nos deixa e nos leva?

Aonde vão parar a  inocência da infância, a vitalidade da juventude, a sisudez do adulto? Porque a criança que existe em todos retorna quando o corpo se curva à ação do tempo, o andar volta a ser inseguro e a memória descarta boa parte do que acumulou ao longo do tempo?

Não se ganha e nem se perde tempo, pois ele não se detém. O tempo não pede licença para criar dunas ou abrir caminhos. O tempo apenas passa...

O tempo não dá explicações. Leva o que lhe convém  ou deixa-nos o que nos convém? Não permite barganha, não aceita oração. O tempo, chronos ou kayros é soberano, senhor de todas as coisas, pai dos segundos que formam séculos, pai tirano que aos filhos devora.

O tempo não para!

Ele passa incessantemente. O tempo apenas passa.



Belinha


Belinha chegou com seu companheiro para passar algumas horas conosco. Somente o tempo de sua nova dona cumprir a jornada de trabalho e ir-se embora. Chegada a hora, a nova dona partiu levando apenas o companheiro de Belinha, deixando-a para que um parente a buscasse posteriormente. Mas esse dia não chegou.

Quando percebemos já estávamos todos envolvidos por aquele ser peludo e carinhoso.

Uma linda convivência que durou anos! Belinha enfeitava a janela, apossava-se das poltronas, rosnava para qualquer estranho que ousasse dirigir-lhe um olhar desafiador ou roubar-lhe a companhia

Belinha ia ao salão de beleza, vestia roupas de acordo com a época, era cuidada pelas doces vizinhas nos finais de semana e procurava a saudade nas paredes da casa de pau-a-pique.

Um dia foi morar com a Felicidade, arrumou um namorado, teve filhotes...

Um dia Belinha se foi.

Deixou seu carinho gravado em nossa memória. Sua existência na tela pintada por Leco. Sua presença ainda muito viva no meu coração.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Nas Entrelinhas 1


A Conferencia da ONU estende-se por horas  fazendo buracos n¨água... Planeta sustentável, viva a natureza, preserve o meio ambiente... Toneladas de papel para se escrever sobre isso e mais árvores sendo derrubadas para fazer o papel que se consome ao se pensar na preservação ambiental.

A Rio +20 estuda alternativas que foram apresentadas na ECO 92 e que também não saíram do papel. Mais do mesmo!

Pesquisas indicam que para se produzir uma tonelada de papel (cerca de dez mil jornais nos quais se publicam, diariamente, as notícias da conferência) são necessárias de 10 a 20 árvores de tamanho médio... Haja árvore para ser derrubada!

Meu quarto é um bom lugar pra ler um livro... e tudo me divide! Meus olhos cansados e fragilizados me lembram que a idade impõe algumas limitações (capricho da mãe natureza) e a leitura é adiada.

É preciso que as letras sejam maiores, mas isso gastaria mais papel e mais árvores teriam que ser derrubadas para satisfazer às necessidades de uma leitura mais confortável . Por enquanto, basta o dia frio.

Um dia frio. Um bom lugar pra ler um livro... Esse tem sido um dos meus desejos nos últimos tempos! O primeiro dia do inverno foi quente, mas para não aprofundar no assunto valho-me das máximas típicas de nossos avós: enquanto o homem não respeitar a natureza, sofrerá as conseqüências de sua ira. Aquecimento global.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Quero de Novo Cantar


Botei reparos em uma fotografia na qual meus olhos transmitem uma tristeza sem pedigree, como a tristeza de Adélia Prado. De onde viria aquela sombra? Por certo eu cuidava da vida antes que a morte ou coisa parecida viesse a arrastar-me, como magnificamente cantou Belchior em Na Hora do almoço.

Deixo que a  fotografia marque a página do Livro de Neruda que já li diversas vezes e vou-me embora meio que triste. O poeta chileno (universal) me antecipara:"Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.” 

Noticias tristes se amontoam nos telejornais. O vizinho triste ouve uma canção muito triste, do Renato Russo,  também e vem de repente um anjo triste perto de mim...Tiro um CD da pilha e o coloco no aparelho de som . quero um samba! Uma bênção! Afinal, “ É melhor ser alegre que ser triste”, mas o poetinha atrevido, Vinicius de Morais,faz uma elegia à tristeza (des)necessária de cada dia: “Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza...”

Gente, o sol ta lindo lá fora, propicio à uma bela leitura dos poemas de meu amado  Quintana! “Eu escrevi um poema triste e belo, apenas da sua tristeza.”

Quer saber? Ta Na Hora do almoço! (Ainda sou bem moço pra tanta tristeza!)

sábado, 5 de maio de 2012

Através do espelho de Alice


Um espelho na parede parece convidar a novos desafios. Esse espelho refletiu um rosto que o meu contemplava mas que  não me pertencia. Quem seria aquela figura estranha a me olhar  de maneira penetrante, mas sem a vivacidade que me acompanha? A maquiagem, muito bem feita, disfarça  linhas, rugas e poros abertos, mas a tez não corresponde ao olhar, que vez ou outra pisca soluçando.

Um grito de criança faz-me virar para o lado  e quando volto a olhar o espelho aquele rosto já não se encontrava emoldurado na parede.

Esse momento de íntima  visão encabulou-me sobremaneira.A pergunta que me acompanha há quatro décadas ecoa novamente: Quem  sou eu na verdade? Seria eu a que me vejo ou a que se viu? O olhar que me acompanha é o que vê e brilha  ou o que permanece inerte no espelho emoldurado? Onde eu me perdi entre o que olha e o que vê?Um sorriso que não esbocei se exibe no espelho como um aceno.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Lenda do Grito da Mata


Diz a lenda que para uma lenda ser aceita é preciso ter um fundo de verdade, apesar do seu realismo fantástico.
A lenda que ora anuncio tem a sua origem no Sitio Arqueológico da Pedra Pintada, localizado na  Serra do Garimpo, Distrito de Cocais em Barão de Cocais.
Quem freqüenta esse paraíso pode ouvir nitidamente o barulho da cachoeira e ao longe o eco de um grito histérico abafado pela mata abundante da região.
Em um tempo não muito distante, estando o Sr. Zé Diniz a carpir sua roça de milho e Dona Maria a assar quitandas deliciosas no forno de barro existente no terreiro para agradar algumas visitas, eis que uma das visitantes se encanta com um pé de mato florido em cachos e sobre o qual Dona Maria discorria suas  propriedades medicinais: Esse mato é sabugueiro...Ajuda nas inflamações, é anti diarréico, ótimo para crianças com doenças como o sarampo e a catapora. O chá das flores secas do sabugueiro é utilizado contra resfriados, gripes, anginas e nas enfermidades eruptivas, como sarampo, rubéola, varíola e escarlatina, por provocarem rapidamente a transpiração.
O chá das cascas, raízes e folhas é indicado para combater a retenção de urina e o reumatismo. Além disso, o chá da frutinha purifica o sangue e limpa os rins. A gente deve colocar galhos de sabugueiro nas portas e janelas das casas para impedir a entrada do mal e  para proteger dos feitiços das bruxas e espíritos malignos...
Dizia ainda  que de sua madeira fora feita a Cruz do Calvário, e por esse motivo, dava azar cortar um tronco de sabugueiro, mas as flores poderiam ser colhidas. Contava enquanto fazia um belo buque das flores de sabugueiro, até que  , de repente, algo muito nojento, preguento e gelado grudou na mão da atenta ouvinte e nao se sabe quem arregalou mais os olhos a perereca verde que fora expulsa das folhas do sabugueiro ou a dona do grito que ecoa até os dias de hoje nas grotas da mata do garimpo. Dona maria ria escandalosamente e o Sô Zé Diniz chegou aterrorizado com o grito ouvido, dizendo ser da Mãe da Mata, pela dor das agressões sofridas.
Muitos tentam entender o estranho som que acompanha a serenata da cachoeira, mas para que a lenda persista muitoainda ha que se falar no Sabugueiro. Observe-se que a varinha mais poderosa do Mundo Mágico de Harry Potter é uma varinha feita de sabugueiro conhecida como a " varinha das varinhas” .
Nunca mais cheguei perto de um sabugueiro, que pode espantar maus espíritos, mas acolhe em seus galhos a nojenta perereca verde  e gela até hoje a minha mão. Eu, curupira avessada, acho que sou uma lenda viva.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Um par de chinelos


Nasci no tempo errado. Pelo menos é o que as situações apontam. Nasci velha, mente amadurecida e corpo cansado... Nos dias de chuva não me importo de me molhar, pois não uso cabelos escovados e nem chapinha... Já ao sol, não saio sem sombrinhas... Embora nunca volte para casa com elas. Em que lugar do universo vão parar todas as sombrinhas e guarda-chuvas que perdemos???

Nasci num tempo em que a magreleza anoréxica é moda que não apenas se curte, mas também se compartilha, sou obesa.

Vivemos na moda do ecologicamente correto e os prédios mantêm cartazes dizendo pra dar preferência às escadas. Eu pago até um extra pelo elevador.

Os sapatos de salto, que não foram exatamente criados para as mulheres, mas para homens e para apresentar o status de seu usuário, foram estigmatizados como sinônimo de beleza, de feminilidade, de status, de altivez... (Eu odeio estereótipos!!!) E embora haja diferentes opiniões a respeito dos saltos altos, alguns como origem das "chopinas" (blocos de madeira utilizada como base/solado, onde o calçado era confeccionado), provenientes da China ou Turquia, eram sandálias com plataformas onde a altura dos solados apontava o nível social e chegava a atingir 40 cm. A mulherada desocupada resolveu aumentar a estatura valendo-se do recurso e há registro de casos  de senhoras da corte que elevaram suas plataformas até 70 cm e precisavam às vezes de dois criados, um de cada lado para conseguir o equilíbrio, as chopinas foram inicialmente utilizadas pelos nobres, passando pela burguesia e chegando as camadas sociais mais baixas, daí foram desprezadas pela elite, sendo que as últimas as utilizarem as chopinas foram as prostitutas.

Porque mesmo falei dos saltos? Ah sim, porque não nasci no tempo em que as sinhás eram carregadas em liteiras por escravos fortes e luzidios...Aliás, não seria sinhá! Nasci depois que um  certo rei Luis XV inventou o salto fino e os governantes resolveram calçar as ruas com pedras, paralelepípedos  ou mesmo deixá-las esburacadas.

Não sei o porquê de alguns idiotas olharem e se sentirem atraídos por pés esmagados num sapato de bico fino e salto alto.Olhem que o bico fino fora abolido e proibido no século XVI pelo  rei Francisco I da França, que  decretou o fim deste tipo de calçado e ainda no século XV, este tipo de pontas aguçadas foi proibido pelo rei da Inglaterra Henrique VIII , por ter pés largos e inchados, achava esse tipo de calçado inconveniente e doloroso. A partir de então foram aceitos os chinelos rasteiros com base larga e muito mais confortáveis.

Se o rei Henrique VIII não tivesse sido tão malvado com o clero, que se recusava a obedecê-lo como cabeça da igreja, na minha próxima audiência com o Papa iria sugerir a sua beatificação. Só um santo homem poderia proibir o desconforto dos pés! Um par de chinelos, por favor.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sem gato na tuba


Os instrumentos de uma Banda de música estão divididos em sopro e bateria. Todos os instrumentos possuem características próprias, colocando-se numa apresentação, segundo as conveniências do Mestre e dos músicos presentes. Há, de certa forma, uma preferência em dispor os músicos por naipes ( por naipe entende-se cada um dos grupos de instrumentos em que é dividida a orquestra. ) E, embora o número de componentes de uma Banda não seja específico,  para cada instrumento de percussão deve-se  ter , pelo menos, quatro de sopro.
Em 1994, quando da realização do III encontro de Bandas de Barão de Cocais, recebi a mais linda homenagem... Os músicos de 27 bandas executavam sob a regência do Maestro João Paulino, uma música que me faria chorar. Cada instrumento dizia, com sua própria voz: "amo você assim e não sei porquê tanto sacrifício...Coisa bonita, coisa gostosa, quem foi que disse que tem que ser magra para ser formosa?"
A música prosseguia... linda em harmonia, linda em emoção, linda... Cem por cento linda! As pessoas começaram a dançar e aquilo virou uma grande festa. Uma festa que jamais sairá  de minha memória.
Em 2005, para comemorar o 100º aniversário da Banda Santa Cecília, de Barão de Cocais, realizamos o IV Encontro  de Bandas , considerado um dos maiores eventos do gênero que se tem conhecimento no Estado de Minas Gerais e que contou com a participação de 34 bandas de diversas cidades mineiras.
E a nossa velhinha banda continuou linda e viva, cada dia melhor, diga-se de passagem, tendo comemorado, dia 15 de abril, 107 anos de existência! A festa de seu aniversário contou com a presença de 07 bandas das cidades de Campo Belo, Timóteo, Catas Altas, Ouro Preto, Mariana, Santa Bárbara e Sabará. Uma banda visitante para cada ano vivido após pó seu centenário!
É comum se dizer que todo mineiro tem um trem de ferro nos olhos, uma Banda de música tocando nos  ouvidos e a cor das montanhas nas veias... Em Barão de Cocais não é diferente... O trem de ferro apita nas curvas, a cor do  minério  de suas muitas montanhas tinge os pés e as almas dos cocaienses e a Banda de Música tem lugar de honra nas praças e nos corações de muitos!
Um dia, em 2007 a Banda Santa Cecília tocou em minha homenagem. Era minha posse na AMULMIG e eu recebia, oficialmente, a imortalidade dos acadêmicos e a “VALSA PARA REGINA CÉLIA” Muitas emoções.
Por fim, um dia, a tuba do Serafim abrigou um gato e a melodia nascida no coreto do jardim ganhou miados  sofridos que repicam, ainda, alegres e memoráveis  notas dos seus cantantes.Mas todo domingo havia banda no coreto...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Alma em Plumas



Uma vida é um pulsar frenético dos pulmões e do coração. Tive, certo tempo atrás, uma vida em minhas mãos... Um nada, um nadica sem peso nem tamanho, uma pequenina alma revestida de uma plumagem indescritivelmente colorida.

Um beija-flor.

 Vítima de um acidente de percurso, tombou mortalmente ferido e por horas teve o socorro e a atenção possíveis de alma semelhante, que ama a natureza o céu e a liberdade...

Algumas gotas de néctar e a vida volta a pulsar. Respiração ofegante e alma desprendendo das penas, a morte ronda paciente aquele nada que roubou minhas horas e meu sono. Resistia, ameaçava voar, cansava-se, dormia...E meu olhar atento já amava aqueles olhinhos redondos que, às vezes, buscavam reconhecimento do ambiente que lhes era estranho.

Ao prenúncio do dia dera sinais de despertar. Pus-me a contemplá-lo com ternura e a mim, parecia estar bem.

 Pregara-me uma peça.

Pela manhã apenas as plumas repousavam sobre a caixinha marrom. A alma se desprendera com o raiar do sol e eu nunca mais serei capaz de olhar um beija-flor com os mesmos olhos que os viam antes. Sei agora que são apenas lindas almas que voam e que precisam de doçura para seguir seu rumo. Ternura não lhes basta. Meus olhos têm sabor salgado de lágrimas

... ...............................................................................  

*Ao receber uma mensagem de João Candido, lembrei-me de um fato ocorrido e registrado que agora volto a expor. Obrigada João!! Texto recuperado. Escrito e publicado por mim em algum lugar e tempo passados. Atualizado para o blog.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Agonia dos Sinos da minha terra



Os católicos diziam que os sinos indicavam a presença de Deus no local, especialmente nas igrejas, daí a tradição de se entoar um sino sempre que o momento da celebração merece um destaque maior, como na hora da consagração. Segundo os antigos, ao badalar o sino, chama-se a atenção de Deus, que observa e ouve a prece com mais concentração.

O termo sino deriva do latim signum, ou sinal e era utilizado para os rituais religiosos, um deles era levar os fiéis à igreja. Houve um tempo em que a linguagem dos sinos era entendida por todos. Os sineiros comunicavam nascimento, agonia, morte, as diversas ações litúrgicas da igreja católica; chamavam a atenção para algum fato realmente relevante como incêndio e perigo. Tocava-se o sino e a notícia corria logo a comunidade.

Com o passar do tempo (porque ele sempre passa...) a linguagem dos sinos foi sendo substituída pelas ondas do radio, pela televisão, pelo papel impresso, pela internet e o mundo se fez surdo ao silencio dos sinos.

Minha avó Dora , que pertencia a diversas irmandades da igreja católica, dizia que quando morresse queria que os sinos entoassem bambalalão, por isso mantinha os pagamentos das anuidades sempre em dia... Bambalão era um repique lento, mas dobrado. Próprio pra anunciar o passamento de um irmão.
Se o defunto não era das irmandades, ou era um pé rapado qualquer, o sino entoava apenas o “tem nada não, tem nada não”e isso ela não queria!

Meu pai, ministro da Eucaristia e devoto de São Miguel, era sineiro nas celebrações da comunidade e o sino badalava bonito e ritmado nos dias de reza e mais bonito e eufórico ainda nos dias de missa.... Meia hora antes do início e ao aviso da entrada do celebrante. Saudades do meu velho...

Diz a lenda que se um fio de cabelo de mulher entrar em contato com o sino de uma igreja ele trinca e isso é o que de pior pode acontecer ao sino!.Por isso a missão quase que exclusivamente masculina.

Mas então vieram maneiras mais práticas de se comunicar e os sinos foram rachando, calando, silenciando... Os antigos foram partindo sem repiques e ninguém dobrou o sino na agonia do próprio sino!

Hoje os sinos, pelo menos aqui em Barão de Cocais, quase já não comunicam... Continuam sim tentando chamar a atenção de Deus durante as celebrações, mas esse badalar dos sinos mineiros, que desde 2009 é tombado como patrimônio imaterial nacional, ainda não retomou seu lugar de honra no nosso dia a dia. Por quem os sinos dobrarão?

domingo, 1 de abril de 2012

A Filha de Orfeu


Segundo estudiosos, a Lua se originou quando um planeta chamado Orpheus colidiu com a Terra a quatro bilhões de anos. Ela tem um quarto do tamanho do nosso planeta, com um diâmetro de 3.476 km, e está a aproximadamente 384.403 km de distância de nós.

Numa incursão mitológica, descobrimos que Orfeu era filho do deus Apolo e da ninfa Calíope; tendo herdado do pai uma lira que, uma vez tocada por suas mãos, revela um canto tão primoroso que nada nem ninguém consegue se manter imune a sua magia. Até as feras mais selvagens amenizavam sua ira diante das notas extraídas deste instrumento, que praticamente as hipnotizava. Mesmo os arbustos cediam aos seus encantos.

Isso explica o porquê da lua cheia de meses, redonda, brilhante, majestosa influenciar nas ações da agricultura, da beleza, do mar, da própria natureza!

Lua cheia de março... Que mistérios possui essa lua que causam tanto encantamento? Até as águas que fecham o verão paralisam-se para que ela se sobressaia soberbamente nos céus de março, mesmo a uma distância de 384.403 km da terra!

Parece fitar-nos enquanto clareia a marcha dos tropeiros de Ipoema, a fila comprida dos devotos de São José do Brumadinho (este ano abençoados com a maior lua cheia dos últimos 20 anos!), os fieis das solenidades da Semana Santa...

Lua cheia de março traz consigo os ventos das tardes de outono que varrem as árvores, lhes carrega todas as folhas secas e anuncia o balé dos galhos sobre a terra solta, possivelmente ao som da Lira, numa coreografia ensinada por Eurídice.

A lua cheia, filha de Orfeu, casada com São Jorge, testemunha juras de amor, inspira poetas e cheia de si, contempla os suspiros de sua inalcançável beleza.

domingo, 18 de março de 2012

Maledicências


Eu não assisti ao Fantástico domingo. Aliás, há anos não o faço... A vinheta do “show da vida” me angustia e as pautas do programa sempre deixam a desejar. Assim, recuso-me a ficar ligada na telinha.

No entanto, minutos após o encerramento do programa, as redes sociais comunicavam o desfecho vergonhoso do programa, com a poderosa emissora ficando fora do ar por alguns segundos e o apresentador completamente perdido sem saber explicar o ocorrido.

Quando lhe sopraram que o programa deveria ser encerrado, o sujeito estava ao vivo, engasgado, mas desejou um “boa noite” meio medíocre e teve se microfone cortado.

No entanto, continuou a falar e todo mundo quer saber o que ele dizia... Até eu que não curto a programação estou curiosa.

Os comentários dizem que ele ficou com cara de paisagem, mas confesso que já vi paisagens muito mais interessantes!

Outros dizem que ele falava mal da Presidenta, por isso teve o áudio interrompido...

Falaram também que ele se desculpava pelo vexame ao qual se submetera em uma palestra realizada em São Paulo, quando uma daquelas calças ridículas que ele usa se rasgou...

Quanta maledicência...

Conta Zeca, sobre o que realmente você estava falando? ♪♫ Como vai você? Eu preciso saber da sua vida...♪♫

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dias Cheios de Poesia


Eu desejo a você dias cheios de poesia! Dias em que o sol brilhe na medida certa e o vento assopre com hálito mentolado o seu rosto. Magia.

Eu desejo a você dias cheios de poesia! Dias em que o voejar das borboletas espalhe alegria pelo ar e o seu sorriso seja sereno... Encantamento.

Eu desejo a você a suavidade das rimas raras, o choque das antíteses e a métrica esquecida pelos modernistas... Poesia.

Ah eu desejo que você dedique uns instantes a absorver a poesia que brotas das ruas, que nasce nas praças, que invade os comércios, os órgãos públicos e os bancos, que louva aos deuses e seduz almas corações em Barão de Cocais. Oportunidade.

Eu desejo que você tenha dias cheios de poesia, da poesia sagrada, da poesia pagã e da poesia in natura que encanta nossa paisagem. Fé.

Os pássaros, as flores e toda a natureza prometem uma semana de agradáveis sensações a quem vai, a quem fica, a quem nem pretende sair do lugar... Nas ondas do rádio, nos cantos dos pássaros, no perfume das flores, no olhar do apaixonado... Eu desejo que você tenha essa chance de ser contaminado por esses dias cheios de poesia. Alegria.

A cidade- poesia se oferece ao deleite de dias cheios de poesia durante a semana de 14 a 21 de março. Poetas de todo universo aguardam a oportunidade de suavizar a correria do seu dia a dia e espalham versos por todos os lados na cidade – poesia! Convite.

sábado, 3 de março de 2012

O sabor do Jambo


Quando criança, meu avô materno cultivava hortaliças, milho e feijão miúdo em um terreno de sua propriedade, próximo a nossa casa. Adorávamos quando ele voltava com uma sacolinha de jambos e nos entregava no portão. O jambo é uma fruta diferente... tem um gosto diferente, uma textura diferente, mas a sua aparência se mistura com o figo e com a goiaba. O gosto não!

O jambo é uma boa fonte de ferro, proteínas e outros minerais. Os frutos apresentam 28,2% de umidade, 0,7% de proteína, 19,7% de carboidratos, contendo entre eles vitaminas como A (beta caroteno), B1 (tiamina), B2 (riboflavina), minerais como, ferro e fósforo. Em 100g de polpa, tem 50 calorias.

Certa vez Vô Geraldo disse que as corujas haviam colhido todos os jambos naquela noite. Garrei um ódio delas... Mas acho que não era verdade! O vô Geraldo tinha muitos netos e era justo que a cada dia ele presenteasse netos diferentes com aquelas frutinhas...

Por muito tempo vi as corujas como rivais na degustação de jambos, mas depois isso passou. Descobri que apenas as corujinhas buraqueiras se alimentam de frutos e sementes... Eu as xingava, mas elas nada faziam a não ser observar. Eita bichinho que presta atenção a tudo!Amo as corujas.

Muitos anos e muitas frutas depois, adquirimos uma pequena propriedade, dedicada a São Jorge, no distrito de Cocais. La existe um enorme jambeiro, mas não é que as corujas disputam mesmo os frutos conosco?

Descobrimos que o jambo tem um sabor acentuado de pétalas de rosas... Nunca comeu rosas? Esta perdendo uma grande oportunidade de conhecer um sabor diferente, perfumado e adocicado... Mas tem que ser rosa caseira, cultivada pela mãe, pela tia ou pela avó.... Nada de rosas de floriculturas...

Pois bem, o jambo que as corujas não levam eu como! E hoje me bateu uma vontade danada de comer jambos!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Rompendo Barreiras


O destino do ser humano é esse: romper barreiras... Romper barreiras desde que se nasce... Sempre alguém fica para trás... Sempre alguém desiste... Alguém sempre é reprovado, alguém sempre é derrotado!
Mas que sociedade é essa de notórios conhecimentos capaz de derrotar, excluir, reprovar ...? Em que local está a perfeição e quem assim a denominou?
Se a religião, a cor da pele, a opção sexual, a idade, o peso ou a altura são fatores que promovem a exclusão, a marginalização e ergue barreiras sociais alguém poderia dizer qual a religião certa, a cor da pele certa, a opção sexual certa, o peso e a altura corretos? Como explicar o fenômeno do rompimento de barreiras tidas por indestrutíveis aos olhos medíocres da sociedade?
Acordar a cada manhã para viver um novo dia é se preparar para romper barreiras. No meu caso é! A minha casa é adaptada para as dificuldades de locomoção da minha mãe, mas eu também pego carona nessas adaptações. Para lavar os pés, preciso da barra de apoio que foram colocadas para ela, senão não consigo. Escada tem que ter corrimão! Não posso pegar a lotação porque os ônibus sempre param bem afastados dos passeios e a altura do degrau do ônibus não permite que eu me apóie em uma perna com todo meu peso para entrar... Sair a pé é bem mais cansativo e demorado, mas menos constrangedor.
Comprar roupas era vergonhoso, incômodo e revoltante. As lojas não vendiam nada que tivesse uma numeração superior a 48 e essa numeração não me vestia e nem veste! Eu era obrigada a usar umas roupas que pareciam um pacote enorme, aberto embaixo e com 3 buracos simétricos na parte superior. Chamavam a isso de roupa de gorda!
Poxa, não trabalhar a sensualidade, o decote, a transparência, os detalhes numa peça de vestuário apenas porque ela gasta mais tecido é, no mínimo, desrespeitoso!
Hoje é menos penoso, algumas lojas se dedicam a atender ao enorme público dos gordos e trabalham numerações que chegam até o 80! Roupas joviais, leves, sensuais, elegantes e que vestem as gordinhas, as gordas e as gordonas sem o menor problema! O público plus size agradece a sensatez...
É preciso romper barreiras e chegar lá. Todos os dias! Ytisteza? Pra que? A alegria deve se fundar em cada um... O sorriso destrói barreiras.é preciso curvar, é preciso saber-se cumpridor da própria missão de ser feliz...
Adélia Prado, em sua “ Com licença Poética”, exalta a missão da mulher: “Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.//Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor.// Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos-- dor não é amargura.//Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.”
Adooooroooooooo !

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Pra Quando o Carnaval Chegar


A banalização da alegria, a banalização da música, a banalização do corpo, da roupa, da saúde... Tudo é normal, tudo é permitido... Desde que se use a camisinha! Não saia sem ela. Afirmam os discursos permissivos do governo. Sem ela não dá! Apregoam as ONGs, Camisinha na folia é nota dez em harmonia... Aff!!!

Sem noção! Cismam em proclamar que se você curte a folia, vai transar... E eu em casa, ouvindo o Chico cantando Quando o carnaval chegar.

A festa começa na sexta e vai até a madrugada de quarta-feira, quando os foliões deixam as ruas e vão se encontrando com as beatas que se dirigem para o recebimento de cinzas na igreja.

Paaaaara tuuuuuudddddooo!!!


O beijo roubado não é mais permitido. É caso até de policia! “Há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá...”Até eu que não curto a folia, não apóio a banalização do sexo, da música, do corpo, das roupas, da saúde e não sou contra o beijo roubado lamento o fim da festa momesca.

É uma pena, mas acabou. “ Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar...”

Pulei todos os dias na minha cama fofa e aconchegante. “Quem me vê sempre parado,distante garante que eu não sei sambar...” Não tenho paciência pra televisão e nem aos desfiles do Rio ou de São Paulo eu assisti. Tomei conhecimento da baderna da apuração em São Paulo pelo face book... Essas redes não perdem nada!

To me guardando pra quando o carnaval chegar!”

Aqui virou moda dizer “é meu jeito moleque de ser”... Tudo isso em referencia à banda que abriu nosso carnaval e que , pelo visto, o povo curtiu à beça!

“E quem me vê apanhando da vida, duvida que eu vá revidar...Tô me guardando pra quando o carnaval chegar!”

Agora a vida volta ao normal. Ou, em muitos casos, começa o ano... No Brasil o ano novo, em geral, começa após o carnaval. É A banalização do tempo. Yes, nós temos bananas!

As marchinhas da Praça Nossa Senhora Aparecida ainda vão ecoar por toda quaresma na cabeça dos foliões... Banana menina, tem vitamina... Banana engorda e faz crescer!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Crisálida


A vida é feita de ciclos. Isso todos sabem. O que poucos sabem é reconhecer esses ciclos na prática, é reconhecer-se na metamorfose própria de cada ciclo.

Metaforicamente, borboleteamos durante toda a vida! Passamos por cada etapa de nossas vidas seguindo os mesmos ciclos de vida da borboleta: 1) ovo / fase pré-larval 2) lagarta;3) pupa / que se desenvolve dentro da crisálida;4) imago / fase adulta

A Borboleta passa a maior parte da vida em estado de larva (lagarta), alimentando-se de folhas. Enquanto crescem e se desenvolvem, as lagartas trocam várias vezes de pele até se transformarem em pupa, ou seja, quando sua pele endurece e forma um casulo.

No interior do casulo (crisálida), a pupa não se alimenta, move-se raramente e transforma-se em Borboleta adulta.

Após um período que pode variar de duas semanas até vários meses, segundo a espécie, a Borboleta rompe o casulo.

Geralmente, quando surge uma nova situação, podemos considerar que estamos na fase 1 da metamorfose. Enquanto digerimos a nova situação e tentamos – em vão- obter respostas vivemos a fase 2. Aí percebemos que é preciso dar tempo ao tempo e nos recolhemos para não tomar atitudes precipitadas (fase 3). Após um relativo período em que a poeira se assenta e conseguimos amadurecer com a nova situação, saímos prontos para viver de uma nova maneira, melhor e mais bonitos! (fase 4)

A cada novo ciclo adquirimos mais resistência e novas roupagens. Somos diretamente afetados pelas mudanças e somos renovados por cada uma delas.
As borboletas são símbolos de liberdade, alegria, leveza, ligeireza, riqueza... No Brasil, sonhar com borboletas é bom presságio(no jogo do bicho corresponde ao número 4), Nos EUA, soltar borboletas num casamento ou divórcio significa disponibilidade para uma nova vida; Na china, a mulher é simbolizada pela borboleta, por sua especial ligeireza e delicadeza;Na França, uma borboleta é anúncio de boas novas; Na Grécia as borboletas são diretamente ligadas à evolução espiritual.

Entendo que, por seu simbolismo e beleza, minha irmã Luciana as ame tanto! Seu quarto é quase um borboletário artificial; Sua pele as tem marcadas para todo o sempre... Ela própria uma metamorfose em evolução... Hoje muito mais bonita que quando ovo ou larva. Hoje adulta, livre, madura, soberana e voejante.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Super Proteção


Na minha vida não me inspirei em super heróis. Nem quando era criança. Achava aquelas roupinhas dos ditos heróis sempre muito ridículas! O super homem usa cueca em cima da calça, a mulher maravilha usa cinto largo com short e um diadema na cabeça... Brega demais! Tarzan, Flash Gordon, Batman, Capitão América, Homem de Ferro, O Coisa (e que coisa, viu!)... Todos na defesa do bem, da paz, no combate ao crime, tomando para si a responsabilidade de ser protagonista na luta do bem contra o mal. Fardo muito pesado para um ser humano. A mulher invisível era tudo o que eu não queria ser. O Zorro dispensaria qualquer comentário se não tivesse sido copiado pela Tiazinha... rs rs, Chapolin Colorado é bizarro, mas amava o Lion dos Thundercats... Esse sim, um gato!

Agora, depois de crescida, sei que tinha razão. Heroísmo é coisa de bombeiro... Mas alguns pequenos poderes é-nos concedido sim e vivemos a tentar colocá-los em prática!

Tentar voltar o tempo não nos é possível. O que passou, passou (e tudo passa!).

Queria, porém, aprisionar algumas coisas que me fazem bem, que me dão quentura n’alma. Pus-me então a construir um espaço de proteção para algumas coisas – poucas- que não desejo perder. Criei uma redoma para guardar aquele sorriso de Clara, a rosa estronda mundo do jardim de mamãe, a doce voz de Melissa, o cheiro do doce de cidra, a minha primeira visão do mar, o beijo na mão... Lembranças que afagam meu coração por dentro e de que eu cuidarei por toda vida, a fim de que nenhum mal lhes suceda.

Diz a musiquinha da Banda Mais bonita da Cidade que “coração não é tão simples quanto pensa, nele cabe o que não cabe na despensa, cabe o meu amor”. Assim, heroicamente criei uma redoma de pura energia pela qual nada pode passar além da ternura de quem vê. Uma redoma que guardo no mais aconchegante cantinho do meu coração, aonde só pode chegar quem tem a chave.

Trouxeste a tua?

Expiação


O céu de estrelas cintilantes pode nos levar a sonhos, pode nos levar ao encantamento e pode nos levar ao completo êxtase contemplativo. Esse é o céu de pós chuva numa noite de verão de Barão de Cocais. A lua não apareceu... É muito nova pra sair a essa hora de quase completa solidão, alguns boêmios que não se percebem sós, pois conversam com alguém que não vemos, passam inertes àquela pequena luminosidade piscante nas alturas. O cigarro é um companheiro e tanto nessas horas em que assistimos ao nada na mais profunda exaustão do tédio.

Só assim mesmo para terminar o dia depois de driblar contra o vento sul desde a manhã. Tenho um amigo que se refere a esse tipo de dia dizendo que levantou com o pé esquerdo. Mas, graças a Deus! Penso nessas horas. Levantar sem ele seria pior! Hoje, no entanto levantei com os dois pés virados para trás. Era a própria versão feminina do Curupira! Meus cabelos acordaram muito antes de mim e estavam todos de pé. A empregada não apareceu pra trabalhar, o pão na mesa do café era amanhecido e a manteiga tinha acabado no purê de batatas de ontem. A ração dos cachorros também se rendeu ao fim e a água da Copasa foi interrompida por causa das obras de infra estrutura que estão sendo feitas na minha rua.

Nada há de tão ruim que não possa piorar, não é mesmo? Assim ocorreu então no serviço. Deu tilt no sistema, a net entrou em manutenção de emergência, a procuradoria jurídica deu pau na minuta da defesa elaborada para sustentar a defesa de um projeto, o estagiário faltou ao serviço, um desprivilegiado de bom senso resolve reclamar porque apareceu na foto de m um jornal de olhos fechados, a outra, ao contrario, que espirrou de olhos abertos quer o meu anel que imita águas marinhas, mas que fora comprado na loja de R$1,75. A vizinha desorientada resolve brigar com o filho pelo celular, mas todos os companheiros são obrigados a escutar, até quem esta do outro lado da rua. Enfim, um cheiro bom de café lembra que nem tudo está perdido. Pura ilusão! O café está fraco e doce. As principais operadoras de celular estão sem sinal, menos uma, é claro. Claro também que ninguém usa essa operadora, exceto o plano corporativo do serviço.
O dia parecia interminável. Era capaz de chegar as 20 horas, mas as 18 não chegavam nunca. Quantos aborrecimentos ainda por vir...

Mas a noite chega e com ela a calmaria típica de mares turbulentos. Por cima mansidão, por baixo o perigo.

Estrelas piscando uma após a outra. Cigarro aceso um após o outro. Bêbados que falam sozinhos. Cachorros que passam devagar... Nenhuma janela espia!

ETA vida besta, meu Deus! Já disse outrora o velho Drummond a respeito de “Uma cidadezinha qualquer”, mas é claro que não se referia a Barão de Cocais , que não é uma cidadezinha qualquer...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Na Porta dos Olhos


Naquela segunda-feira acordei mais leve. Minhas pernas doíam menos que de costume e o sol dera o ar de sua graça; Espanei o pó verde do bolor que encobria meu sorriso e passei um batom... É bom saber-se viva de vez em quando.

A grama ainda retinha algumas gotas de orvalho. O beija-flor em total desrespeito à luz de meus olhos os ameaçava com seu vôo. Lagartixas preguiçosas se esparrodavam no muro como se bocejassem.

Tudo realmente inspirava leveza naquela manhã. Até o meu andar!

Alguns sorrisos, cumprimentos, acenos de surpresa e eu já me encontrava no centro da cidade. Nem percebi o percurso sempre tão enfadonho.

Um ti ti ti meio perplexo chama-me a atenção à conversa alheia. Alguém morreu naquela madrugada que prenunciaria o dia de sol, mas quem? Apurei os ouvidos mas não consegui identificar...

Pouco à frente comentava um velho com o também velho professor na esquina e apontava para o jornal. Pois é. Morreu! E lançaram-me um olhar indecifrável.

Uma espécie de urticária me atacava o corpo naquele momento de pura curiosidade. Mas meu coração não me confidenciava nada! Logo meu coração que sempre me intuiu do que estava por vir... Foi quando me lembrei que deixei meu coração a tomar sol! Logo eu que detesto tomar sol coloquei-o à janela para os primeiros raios da manhã e não o recolhi de volta. Por isso a estranheza do dia, por isso o andar mais leve... Mas espere! “Coração não toma sol”... foi esse um dos títulos do Bartolomeu Campos de Queiros que mais me impressionaram!

Mas ora bolas... Coração que não toma sol é frio, cheio de geleiras... E o meu estava a tomar sol naquela manhã que noticiava a morte de alguém.

O taxista da pracinha se amontoava no radio do carro para ouvir a noticia. Dessa vez eu a ouviria também. A voz meticulosamente litúrgica dizia “Morreu nesta madrugada, no Hospital Felício Rocho, o escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queiros...” Pronto. Não precisava ouvir mais nada.

A literatura infanto-juvenil vestiu seu luto. Sem coração no momento, porque o meu estava tomando sol, não sabia mais o que pensar. Sentir não poderia. `Peguei então emprestado do defunto uma só frase do seu Livro Por Parte de Pai e "Prendia as lágrimas na porta dos olhos"(p.73).

domingo, 22 de janeiro de 2012

Tempo das águas


Não sou amante do verão, praia, sol, cerveja gelada... Curto bem mais o frio, fogão de lenha, caldo quente, amigos, fogueira... O outono e suas temperaturas amenas são bem atraentes e convidativas para uma roda de viola e a primavera é linda, alegre e multicolorida.

Não falei das chuvas? Verdade... Sair para escola com chuva, ir trabalhar com chuva, voltar pra casa com chuva... É muita molhação.Vai indo enche! Choveu consecutivamente por quase dois meses!

Manchas de mofo disputam espaço no guarda-roupa (quase vazio, porque as roupas não secam), nos armários e até as pessoas já cheiram a bolor!

Dias tristes esses dias chuvosos em que o sol não dá o ar de sua graça, o arco-íris hibernou em algum canto do outro lado do continente e os sorrisos deram lugar a uma discreta tromba. Parece que até os céus estão chorando copiosamente a saudade dos dias de sol.

Edifícios se desmoronando, estradas interrompidas, rios enormes e aos solavancos esgueirando-se em pequenas calhas por onde corriam preguiçosamente pequenos riachos..

Água que vem do céu, água que vem do morro, água que vem de comportas abertas, águas muitas que não lavam mas levam... São enchentes levando gente, levando casas, levando ruas, levando animais e tudo mais que encontram pelo caminho.

Meu coração amiúda-se diante desse rastro de morte e destruição.

Mas as chuvas são importantes e por muitas vezes agradáveis! Dormir ao som de uma chuva tranqüila é ótimo! Por mim poderia chover noite sim e noite não. Já dei essa sugestão a Deus, mas acho que ele não a levou em consideração.

Saudades das noites frias de junho!

Cheiro de Dindinha


Quando criança tinha um pequeno travesseiro que carregava comigo pra todo lado. Difícil deixá-lo em casa quando me matricularam no Jardim de Infância, mas dormir sem ele parecia coisa impossível. Era pequeno e tinha um cheiro inconfundível: era o cheiro de minha madrinha!

Não sei se fora ela quem me dera o pequeno travesseiro, mas mesmo depois de mais crescida, quando me fizeram trocá-lo por uma viagem e deram fim naquele pedacinho de pano acolchoado, enredava-me ao vestido de Dindinha para sentir-lhe o cheiro. Claro que ela nunca soube disso.

Maria era o seu nome. Maria Margarida. Simplicidade com nome de flor e cheiro de travesseiro.

No interior, como em Barão de Cocais onde vivo, era comum os afilhados tratarem as madrinhas por Dindinha e é claro pedir-lhes a bênção!

Dindinha abençoava-me a qualquer hora do dia ou da noite por tantas quantas fossem as vezes que eu passasse por ela.

No natal passado ganhei de minha irmã um travesseiro de macela. Bingo! Era esse o recheio do meu travesseiro de quando era criança... É o cheiro da minha madrinha.
Flor que habita os céus há alguns anos, lembro-me dela todas as noites. Cabelos cacheados, risada contagiante, cheiro de macela!

A Macela é um arbusto perene que atinge cerca de um metro de altura. As flores são amarelas, com cerca de um centímetro de diâmetro, florescendo em pequenos cachos. As folhas são finas e de cor verde-claro, meio acinzentada, que se destaca do restante da vegetação do campo. Suas propriedades terapêuticas incluem ações antiinflamatórias, calmante, antidiarreicas, bactericidas, antiespasmódicas, digestivas, relaxante musculares, tradicionalmente, verifica-se seu uso em recheio de travesseiros para crianças e adultos.

Abraço o meu travesseiro de macela e mato saudades da infância.
Abraço o meu travesseiro de macela e atiço saudades da infância.
Abraço meu travesseiro de macela e me aconchego, pequenina, no colo de minha madrinha.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O aumento que não queremos


Quando nos deparamos com situações inesperadas, as quais de certa forma somos responsáveis, mas o medo, a inércia, a própria conveniência nos fazem calar, somos, timidamente, convidados a refletir o excerto do poema de Eduardo Alves da Costa , nos caminhos com Maiakovski...

Quando nos deparamos com o absolutismo de políticos despreparados por com nossa escolha, em numero maior até que o necessário, cutucam-nos os versos: “Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.”

Então fazem da casa do povo um circo com tambores, microfones e picadeiros e a poesia fecunda dos que silenciam grita apavorada nos versos do mesmo poema: “Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.”

A legislação estabelece critérios para o número máximo de vereadores que uma câmara pode adotar. Pesquisas indicam que a sociedade é contra o aumento do numero de seus representantes em todo país. Movimentos contrários ao aumento do numero de cadeiras no legislativo tem alcançado proporções magníficas. O povo não quer mais vereadores. Então, porque a insistência? A quem interessa a abertura de novas vagas na Câmara? A resposta é simples... O aumento do número de vereadores somente interessa aos partidos políticos, ou a algumas pessoas em particular, mas as câmaras vem , sem muito barulho, quase que silenciosamente,aumentando o numero de suas cadeiras... E isso aconteceu também aqui!

No site da Câmara de Barão de Cocais vê-se uma enquete que indaga O que você acha do aumento do número de vereadores de 09 para 11? O resultado da enquete aponta que 92,71% dos que participaram da pesquisa são totalmente contrários ao aumento. No entanto, por meio do Decreto Legislativo Nº141,publicado em 27 de Dezembro de 2011, a Câmara Municipal de Barão de Cocais aumentou para 11 o numero de vereadores do município.

Voltam-nos assim os versos de Eduardo Alves Costa? “Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada.”


Oi... Psiu!!! Por que você se calou????