Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Renascer










Eis que despertamos para um novo ano. Algumas expectativas e esperanças renovadas, uma imensa bagagem de tristeza e frustrações sobre os ombros e uma grande má vontade de seguir em frente...

Um ano cheio de dores e conflitos ficou para trás e  o desejo sincero de que ele nem tenha existido é verdadeiro! Mas o mundo sobreviveu às profecias e não se acabou. A vida continua para os sobreviventes e, seja apinhada de projetos novos ou repetidos, deve prosseguir.

Uma entrega sonolenta e preguiçosa à desesperança ameaça a paz interior, No entanto, a voraz lembrança do texto “O Menestrel”, atribuído a Shakespeare, sacode o inconsciente para o fato de que “Não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.” E a gente vai aprendendo também com isso.

É preciso renascer a cada manhã...

‘Bora’ viver?

A partir de agora o blog “Crônicas esparsas” retoma as suas atividades!

Venha comigo nessa empreitada de vida e literatura? E só mais convite, mas espero que você aceite.

Maria









Maria plantou um jardim na sua infância. Eram dálias, crisântemos, vincas e miosótis... Flores coloridas que ela não gostava que fossem colhidas, pois no jardim atraíam as borboletas e os beija-flores. Tão nova e Maria já ensinava uma lição.
Maria se casou e para enfeitar a sua casa, do lado de fora, plantou um jardim ainda mais colorido!Além das flores da infância, plantou hortênsias, rosas, lírios, amor-perfeito, gardênias, perpétuas... Tudo lindo e colorido!
Vieram as borboletas, os beija-flores, outros passarinhos, joaninhas... E o ano todo era primavera na vida de Maria.
Maria é a flor mais linda do jardim. Por Maria os pássaros cantam, brincam... As flores pequenas se  desprendem dos cabos e se transformam em leves borboletas... Por Maria as abelhinhas zombeteiras se enfiam nos seus cabelos e fazem Maria sorrir!
Maria envelheceu e já não conseguia plantar o seu jardim, mas deram-lhe outros... sempre coloridos, perfumados e povoados de seus queridos convidados alados... Maria observava suas flores  de manhã, quando se assentava para tomar sol. Os tucanos e as maritacas preparavam-lhe um espetáculo especial todas as manhãs...
Maria era feliz por isso. E nós que a amamos e amaremos para sempre gostamos de saber da sua felicidade.
Deus buscou Maria pelas mãos para admirar a beleza do jardim do paraíso. Ela relutou, talvez por nosso olhar suplicante, mas foi, inebriada pela beleza dos céus.
O jardim de Maria chorou pétalas  multicoloridas, mal sabendo ele que do céu ela pode também contemplá-lo!
Saudades eternas!

Dezembro/2012

Chá 2


De repente aquele chá, preparado com expectativa e adoçado com ansiedade, não pode ser servido... Se a água permanece em fervura acaba por secar. Se lhe interrompermos o fogo, não escaldará a erva e não produzirá o chá.. Melhor bebê-lo então! Em infusão a erva doce, a camomila, a folha de laranjeira. É preciso calma nessa hora! A leitura bíblica nos lembra, em provérbios 16,1: “ O coração do homem faz planos, mas a resposta certa vem dos lábios do Senhor” Um aroma irresistível invade os ambientes. O coração se tranqüiliza...

O chá que pretendemos com versos e conversas  não foi cancelado, mas adiado! O momento certo, conforme vontade de Deus será de muita alegria e otimismo... Um momento singular para refletir, papear, contemplar... A sua presença será um presente agradável, recebido com muito carinho! Até lá!

Novembro/2012

Chá 1

O dia tem 24 horas para ser vivido. Nessa correria do mundo contemporâneo, não raro nos deparamos com a situação de deixarmos para outra ocasião diversas atribuições que tinham sido planejadas para serem vividas naquele mesmo dia. É a falta de tempo! Essa é a grande desculpa que utilizamos para nossos adiamentos.

Viver, no entanto, não aceita prorrogação re a solução  - pergunte ao tempo! – é deixar o tempo passar! Com ele, alguns sonhos, alguns prazeres, momentos que jamais se repetirão!

Aquele dedinho de prosa com Deus, aquele meditar em oração, aquela contemplação da natureza... Tudo se adia em nome da pressa e acabamos por esquecermos de viver.

Que tal um chá?

Um momento mais íntimo que pode ser acompanhado ou não de uma boa leitura, de uma oração de gratidão, de uma tarde contemplativa... De amigos e de fartos sorrisos!

Um chá que pode ser adoçado com amor ou temperado com saudosas lágrimas!

Considere o meu convite... Voltaremos a falar do chá.

Out/2012

Ao Mestre, com carinho

Entrou outubro e com ele a renovação de esperanças, a celebração da vida, as homenagens que se multiplicam no décimo mês do ano a diversos profissionais.
Todos muito dignos de serem lembrados, todos importantes! Mas um, em especial, merece uma maior consideração: o professor!
Preceptor, professor, educador! Quanta luta, quanto sacrifício, quanto desprendimento e quanta dedicação pela causa, por amor à vocação... Não. Não é  apenas profissão. É vocação! Dom insuflado por Deus. Uma lágrima por cada ser alfabetizado, um sorriso por cada letra desenhada... Só pode ser obra de Deus!
Houve um tempo, não muito distante, em que o professore era autoridade nivelada ao pároco, ao prefeito, ao juiz e ao delegado.
  ainda povos que cultuam a pessoa do professor, como no Japão(dizem) onde o  único profissional que não precisa se curvar diante do imperador é o professor, pois segundo os japoneses, numa terra que não há professores não pode haver imperadores.
Curvo-me, portanto, em homenagem aos professores... todos! E dentre tantos que passaram por minha vida, abraço, merecidamente, Dona Zélia de Barros Duarte, a quem fui submetida à minha primeira avaliação  de leitura. Uma vez aprovada, nunca mais parei! Obrigada professores!

Outubro/2012

domingo, 20 de janeiro de 2013

Santo de casa

Eu conheço um homem  que é capaz de transformar sucatas em belíssimos adornos e utilidades. De ferros retorcidos  ele faz móveis, luminárias, vasos, troféus, molduras, relógios, coqueiros, pássaros, borboletgas, souvenirs... O ferro oxidado brilha ao seu toque e o metal brilhante se enferruja com suas pinceladas.

Eu conheço um homem, operário aposentado, que fez de sua busca uma arte e de seu talento uma alquimia. Ao seu toque, nada fica da mesma forma.

Seus trabalhos como artesão já ganharam o mundo e sua simplicidade o torna único.
Eu conheço um homem que transfere para a aspereza do descartável a singeleza de seus sonhos de liberdade, a expressão de seus desejos...

Gilberto Antonio de Paula fez de Barão de Cocais a sua terra. Aqui ele é de casa, mas diz o ditado que  Sano de casa não faz milagres! Ele faz. Eu acho.

Guerreiros medievais fazem a sentinela de sua obra, anjos trombetam a anunciação e o homem, que clama por liberdade, transforma gaiolas em luminárias na tentativa vã de aprisionar a luz. Porém mantém as portas abertas.

Set/2012

Quimeras





Uma pequena viagem pela história , um mergulho na poesia, um momento de sonhos... Um convite. Vem comigo?

A cidade real de Pasárgada foi fundada pelo rei Ciro quase quinhentos anos antes de Cristo, para ser uma das capitais do Império Persa. Em 530 a. C., o Império Persa se estendia do Mar Mediterrâneo oriental até o Rio Indo (rio que corta a atual China, Índia e Paquistão na Ásia). Para se ter uma idéia  da extensão territorial do Império Persa,conquistado pelo rei, Ciro,  compreende os seguintes países atuais: Irã, Iraque, Síria, Líbano, Jordânia, Israel, Egito, Turquia, Kuwait, Afeganistão, parte do Paquistão, parte da Grécia e da Líbia.

A cidade de Pasárgada era um dos domicílios oficiais do rei e significa “Campo dos Persas, um local de descanso do guerreiro, um lugar bonito e agradável de se viver.

Manuel Bandeira provoca-nos com o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, que constituiu um “arroto” poético, uma fuga para um lugar distante e seguro, prazeroso e cômodo e que sendo “amigo do rei” não abdicaria da efetiva receptividade e comprometimento do governante.

Todos queremos um paraíso de delicias  no qual possamos usufruir apenas de bons momentos, um lugar que, tal qual o poeta, quando estivermos tristes, mas tristes de não ter jeito! Quando de noite nos der vontade de nos matar,possamos nos apegar à idéia de que somos amigos do governante, o qual tudo fará para que estejamos bem.

E é nesse estágio de contemplação, de letargia, de descrença real que vive quase todo país hoje. Submersos e submisso no chamado período eleitoral, sonhamos com  um lugar bom de se viver, um lugar que nos proporcione comodidade, segurança e prazer... Que tenha  um  governante amigo da população, alguém que emane do povo e conheça as mazelas de seu povo.

Quimeras? Talvez.

Por uma possibilidade de sonho, por uma possibilidade real que faça de nossa terra um jardim de delicias, uma nova Pasárgas! É pra lá que eu vou.
Agosto/2012