Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Agonia dos Sinos da minha terra



Os católicos diziam que os sinos indicavam a presença de Deus no local, especialmente nas igrejas, daí a tradição de se entoar um sino sempre que o momento da celebração merece um destaque maior, como na hora da consagração. Segundo os antigos, ao badalar o sino, chama-se a atenção de Deus, que observa e ouve a prece com mais concentração.

O termo sino deriva do latim signum, ou sinal e era utilizado para os rituais religiosos, um deles era levar os fiéis à igreja. Houve um tempo em que a linguagem dos sinos era entendida por todos. Os sineiros comunicavam nascimento, agonia, morte, as diversas ações litúrgicas da igreja católica; chamavam a atenção para algum fato realmente relevante como incêndio e perigo. Tocava-se o sino e a notícia corria logo a comunidade.

Com o passar do tempo (porque ele sempre passa...) a linguagem dos sinos foi sendo substituída pelas ondas do radio, pela televisão, pelo papel impresso, pela internet e o mundo se fez surdo ao silencio dos sinos.

Minha avó Dora , que pertencia a diversas irmandades da igreja católica, dizia que quando morresse queria que os sinos entoassem bambalalão, por isso mantinha os pagamentos das anuidades sempre em dia... Bambalão era um repique lento, mas dobrado. Próprio pra anunciar o passamento de um irmão.
Se o defunto não era das irmandades, ou era um pé rapado qualquer, o sino entoava apenas o “tem nada não, tem nada não”e isso ela não queria!

Meu pai, ministro da Eucaristia e devoto de São Miguel, era sineiro nas celebrações da comunidade e o sino badalava bonito e ritmado nos dias de reza e mais bonito e eufórico ainda nos dias de missa.... Meia hora antes do início e ao aviso da entrada do celebrante. Saudades do meu velho...

Diz a lenda que se um fio de cabelo de mulher entrar em contato com o sino de uma igreja ele trinca e isso é o que de pior pode acontecer ao sino!.Por isso a missão quase que exclusivamente masculina.

Mas então vieram maneiras mais práticas de se comunicar e os sinos foram rachando, calando, silenciando... Os antigos foram partindo sem repiques e ninguém dobrou o sino na agonia do próprio sino!

Hoje os sinos, pelo menos aqui em Barão de Cocais, quase já não comunicam... Continuam sim tentando chamar a atenção de Deus durante as celebrações, mas esse badalar dos sinos mineiros, que desde 2009 é tombado como patrimônio imaterial nacional, ainda não retomou seu lugar de honra no nosso dia a dia. Por quem os sinos dobrarão?

10 comentários:

  1. Deu saudades da terra natal!

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  2. Somente quem ja ouviu o sino espalhar noticias sabe dizer da saudade que sente quem nao ouve mais!

    Geraldo Almeida, de Barao de Cocais no Rio de Janeiro.

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  3. Olá Regina, esse seu profundo texto despertou uma grande vontade de ir à Barão de Cocais. Tomara que isso aconteça em breve.
    Como Belorizontino, amo desbravar o maravilhoso interior mineiro!
    Abraços, Luiz Cláudio Riantash

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  4. Por quem mesmo os sinos dobram?
    Ao meio dia, na abertura da Festa de São Joao, antigamente, todos os sinos das igrejas e capelas de Barão repicavam... Até a lembrança me causa arrepio!
    Agradeço ao meu sobrinho, Toninho, que me mandou o endereço deste blogue. Vi que aqui vou mater muitas saudades de Barão de Cocais e de yoda sua candura. Saudades demais.

    Bernardinho - OSlo

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  5. Parabéns Regina Célia. Nossa cidade se orgulha da sua representatividade e expressão. Deys abençoe a sua mente e nos abençoe com seus escritos!

    Marilene Imaculada Silva

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  6. O seu blog é um tesouro. Somos muito ricos em podermos usufruir do seu trabalho. Nao pare, Regina Celia! Isso é o que te pedimos.

    Angelica Caldeira Bento, Bairro Sao Joao Batista em Barao de Cocais. Estamos sentindo falta de seu programa na radio!Pedi ao Maxuel para te dizer isso outro dia. Ele falou?

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  7. Se o sino ja nao bate, o meu coração ainda bate por ele e o seu texto o fez acelerar ainda +. Parabéns.

    Otavio Herculano

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  8. oi posso mudar de casa e cidade mais do seu blog ja mais obrigado por vc existir ,e nos traser um pouco do pasado que DEUS continue te iluminado a vc j rocha

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  9. Muito legal a sua mensagem. São tantas coisas boas, assim como o badalar do sino, que estão desaparecedo com as novidades anunciadas pela modernidade, que me dá até medo. Afinal, o que vai sobrar dessas maravilhas que um dia pudemos usufuir, e que agora só fica na recordação ou nas sábias palavras como em sua crônica, Regina? Ainda bem que existem pessoas, assim como você, que usam a alma para imortalizar aquilo que um dia foi tão bom, mas que, infelizmente, acabava passando por despercebido e só conseguimos ver isso agora!..

    José Carlos Rolla

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  10. Ô Baronesa de Cocais!Seu texto me remeteu à minha infancia em Guaraciaba-MG,lembro que na torre da Igreja matriz,dedicada a N.S.Sant'Ana,havia dois sinos,um maior e outro menor,onde um sineiro artista manipulava graves e agudos;entoando toques tristes ou alegres e festivos,dependendo do evento.
    Certa vez,li uma entrevista do publicitário paulista Alex Periscinoto,na qual ele comparava os sinos das Igrejas e o confessionário,como exemplo das primeiras agencias de propaganda,ele disse na entrevista que o confessionário era para saber o que as pessoas pensavam e assim saber o que dizer a elas,os sinos serviam para chamar a atenção.
    Mas se ele tivesse conhecido os sineiros das Gerais,teria mas coisas a acrescentar.

    José Pena

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