Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sábado, 4 de agosto de 2012

Apenas



O tempo não nos pede muito... Apenas um pouco de cada vez, mas é implacável! Não poupa ninguém e a todos deixa a marca de sua passagem, seja física ou emocionalmente...

Os avanços tecnológicos, a medicina e a ciência passam o tempo tentando minimizar as marcas do tempo e equalizar as suas afetações.

As rugas aparecem, o corpo fica flácido, os cabelos se orvalham, os olhos serenizam ... quase sempre é assim.

O que, de fato, o tempo nos deixa e nos leva?

Aonde vão parar a  inocência da infância, a vitalidade da juventude, a sisudez do adulto? Porque a criança que existe em todos retorna quando o corpo se curva à ação do tempo, o andar volta a ser inseguro e a memória descarta boa parte do que acumulou ao longo do tempo?

Não se ganha e nem se perde tempo, pois ele não se detém. O tempo não pede licença para criar dunas ou abrir caminhos. O tempo apenas passa...

O tempo não dá explicações. Leva o que lhe convém  ou deixa-nos o que nos convém? Não permite barganha, não aceita oração. O tempo, chronos ou kayros é soberano, senhor de todas as coisas, pai dos segundos que formam séculos, pai tirano que aos filhos devora.

O tempo não para!

Ele passa incessantemente. O tempo apenas passa.



Belinha


Belinha chegou com seu companheiro para passar algumas horas conosco. Somente o tempo de sua nova dona cumprir a jornada de trabalho e ir-se embora. Chegada a hora, a nova dona partiu levando apenas o companheiro de Belinha, deixando-a para que um parente a buscasse posteriormente. Mas esse dia não chegou.

Quando percebemos já estávamos todos envolvidos por aquele ser peludo e carinhoso.

Uma linda convivência que durou anos! Belinha enfeitava a janela, apossava-se das poltronas, rosnava para qualquer estranho que ousasse dirigir-lhe um olhar desafiador ou roubar-lhe a companhia

Belinha ia ao salão de beleza, vestia roupas de acordo com a época, era cuidada pelas doces vizinhas nos finais de semana e procurava a saudade nas paredes da casa de pau-a-pique.

Um dia foi morar com a Felicidade, arrumou um namorado, teve filhotes...

Um dia Belinha se foi.

Deixou seu carinho gravado em nossa memória. Sua existência na tela pintada por Leco. Sua presença ainda muito viva no meu coração.