Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Entre o chão e o céu








Nas minhas memórias eu poderia dizer que passei a infância em uma chácara, mas a consciência de que isso não é verdade  não me permite fantasiar...

Morávamos na antiga Rua Belo Horizonte (hoje Tancredo Neves) e quase todos os vizinhos eram parentes ou “cumpadres”...Uma grande família!

O quintal era provido de um vasto pomar e uma área inacessível aos menores: um pequeno bosque que ia dar no córrego São Miguel. Aos olhos de criança parecia mesmo uma densa floresta escura e medonha, com habitantes nada amistosos, como gambás, taturanas, teiús, etc. E uma colorida cortina de cipós (ou lianas) pendia do topo das árvores que guardavam seus mistérios.

Cipó é uma palavra indígena tupiguarani, cuja pronúncia original era iça-pó ou, literalmente, a mão do galho. Liana é uma designação internacional, usada tanto entre os botânicos de língua latina como os anglo-saxões. Vem do francês antigo lier, por sua vez derivado do latim ligare (ligar), numa alusão à conexão feita por esse tipo de planta entre o solo e a copa.

Segundo o Dicionário dos Símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, entre os tailandeses, a liana é a ligação primitiva entre o Céu e a Terra, cujos frutos deram origem às diversas raças humanas. No Induísmo, a relação entre a liana e a árvore na qual se enrola é um símbolo de amor e evoca a espiral da vida, a eterna evolução das forças naturais.’

Pois bem! Nesse emaranhado de mãos e vidas, de mitos e verdades, de culturas diversas, perde-se a lembrança dos mistérios que existiram e permaneceram inexplorados  no meu quintal. Até Tarzan, sua tanga ridícula  e seu grito de horror despareceram...A correnteza do São Miguel lavou tudo e  levou para muito longe!

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