Nas minhas memórias eu poderia dizer que passei a
infância em uma chácara, mas a consciência de que isso não é verdade não me permite fantasiar...
Morávamos na antiga Rua Belo Horizonte (hoje
Tancredo Neves) e quase todos os vizinhos eram parentes ou “cumpadres”...Uma
grande família!
O quintal era provido de um vasto pomar e uma
área inacessível aos menores: um pequeno bosque que ia dar no córrego São
Miguel. Aos olhos de criança parecia mesmo uma densa floresta escura e medonha,
com habitantes nada amistosos, como gambás, taturanas, teiús, etc. E uma
colorida cortina de cipós (ou lianas) pendia do topo das árvores que guardavam
seus mistérios.
‘Cipó é uma palavra indígena tupiguarani, cuja
pronúncia original era iça-pó ou, literalmente, a mão do galho. Liana é uma
designação internacional, usada tanto entre os botânicos de língua latina como
os anglo-saxões. Vem do francês antigo lier, por sua vez derivado do latim
ligare (ligar), numa alusão à conexão feita por esse tipo de planta entre o
solo e a copa.
Segundo o Dicionário dos Símbolos de Jean
Chevalier e Alain Gheerbrant, entre os tailandeses, a liana é a ligação
primitiva entre o Céu e a Terra, cujos frutos deram origem às diversas raças
humanas. No Induísmo, a relação entre a liana e a árvore na qual se enrola é um
símbolo de amor e evoca a espiral da vida, a eterna evolução das forças
naturais.’
Pois bem! Nesse emaranhado de mãos e vidas, de
mitos e verdades, de culturas diversas, perde-se a lembrança dos mistérios que
existiram e permaneceram inexplorados no
meu quintal. Até Tarzan, sua tanga ridícula e seu grito de horror despareceram...A correnteza do
São Miguel lavou tudo e levou para muito
longe!
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