Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Eu passarinho
Alguém que demonstre uma simples alegria, sem motivo aparente é identificado como alguém que viu “passarim verde”. Sim, a expressão sobrevive há alguns séculos e segundo Câmara Cascudo (Locuções Tradicionais no Brasil) remete ao tempo do uso dos periquitos como portadores de mensagens de casais enamorados, assim como uma lenda do século 19, segundo a qual as moças avisavam seus namorados do envio de cartas de amor colocando um periquito perto da grade da janela. Assim, a simples visão do pássaro acalentava a esperança de uma noticia da pessoa amada e botava-lhe um sorriso no rosto.
Pois bem, essa incursão histórica/folclórica é só pra registrar que hoje não vi um pasarim verde... Sim, eu que sempre tive um sorriso no rosto acabei de descobrir que o principal motivo é porque tinha um passarim verde. Desde menina sempre tive um, dois, três periquitinhos... Dany, Quico e Aninha. Daniele e Quirino viraram comida de gato. Aninha fugiu. E eu chorei por todos eles.
Depois ganhei o Teteco, uma maritaca macho , que vivia sob cuidados veterinários por causa do stress e da carência de vitaminas... Arrancava todas as penas de seu corpo e sangrava...Morreu de infarto após sete anos de convivência e quase me matou de tristeza e pranto.
Ganhei a Frida, que ficou apenas 3 anos comigo e se escafedeu em um vôo ingrato para nunca mais voltar. Quase me acabei em lágrimas.
Poucos dias depois da fuga de Frida, ganhei a Teteca, que deu um berro com a morte hoje e me deixou. Sete anos depois de estar comigo. Parece sina cabalística, não é mesmo?
Não sei explicar, mas em minhas investiduras terapêuticas, era sempre posto em análise um sonho recorrente, no qual eu batalhava horrores para aprisionar um passarim verde e nao o conseguia... Há anos não sonho com essa desventura.
Ao retornar de uma pequena viagem, deparei-me com o poleiro de Teteca vazio e nos rostos compadecidos de toda família o receio em dar-me a noticia.
Hoje não vi meu passarim verde. Talvez as lágrimas estejam me embaçando as retinas. Ah Quintana, quão bem me disses! “Todos esses que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão.. Eu passarinho!”
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Regina,
ResponderExcluirOs seus textos encantam, emocionam e fazem sonhar. Espero que voce tenha sempre muitos passarinhos verdes em seus caminhos e que esses passarinhos coloquem em seu rosto esse lindo sorriso que contagia a todos!
*Ouvinte do Alô Comunidade.
Tenho um lindo pássaro verde. se for para espantar as lágrimas que turvam seu olhar será um prazer cedê-lo a voce, Regina!
ResponderExcluirContinue a sua luta com as palavras. Voce nao sabe, mas elas alimentam muitas almas. A minh'alma sobrevive do seu alimento.
Com Carinho,
Amarildo - Barao de Cocais