Hoje me peguei a contemplar uma
relíquia que adquiri, por presente, há
alguns anos: uma máquina de escrever, de ferro, pesada pra caramba, pretinha e
... Linda! Estava em companhia de outras, sucateadas pelo tempo e substituídas
por modernos computadores. Funciona perfeitamente, embora não seja utilizada.
Batizei-a por Nêga, num plágio descarado da musica “Meu Caro Barão”, do Chico
Buarque em Os saltimbancos Trapalhões.
A Nêga despertou-me paixão à
primeira vista! Não sei se era ela ou alguma prima-irmã, mas ia eu pelos 6, 7
anos, no máximo, quando me encantei por aquele equipamento maravilhoso.
Apavorada com a idéia de ir ao dentista, na sede do Sindicato dos Trabalhadores
Metalúrgicos de Barão de Cocais , fiquei a admirar a rapidez com que as funcionárias escreviam
naquilo. Minha irmã mais velha trabalhava lá. Fantástico! Pensei: quero aprender
também. Ali eram ministradas aulas de datilografia que, por certo, eu desejava
fazer tão logo tivesse idade para tal.
Eram tec, te tecs infindáveis
intercalados com um “tlim”, que posteriormente vim a saber tratar-se do final
da linha datilografada. Em poucos minutos a folha imaculada saía repleta de
palavras, num encaixe perfeito, às vezes completado por um apóstrofo marcando a
adequada margem do papel. Coisa linda de se ver!
A minha freqüência ao local
tornou-se prazerosa por vários motivos, mas um deles eram as máquinas de
escrever. Eu não as tocava, mas já chegava bem pertinho e apenas vê-las e
ouvi-las enchia o meu coração de pura satisfação.
Ao lado da minha irmã trabalhava
uma moça bonita, de saias curtas e pernas grossas. Era uma exímia datilógrafa.
Sempre muito simpática e sorridente. Em pouco tempo eu a admirava também.
Descobri, anos depois,que a moça
das pernas grossas era uma pessoa
especial não apenas por ser bonita, simpática e exímia datilógrafa,
mas por se tratar da primeira mulher a
ocupar o cargo de prefeita no estado de Minas Gerais.
Ao divagar nessas lembranças,
vejo que a minha relação com a Nêga é de
encantamentos recíprocos. Ela também se encanta com a minha existência! Sinto
como se ela piscasse o olho pra mim
todas as vezes que a faço repetir o “tlim”que me evoca doces memórias.A
propósito, não fiz o curso de datilografia.
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