A velha rua de minério vermelho
ganhou nova cara com calçamento em palelepípedos. Palavra
difícil de se pronunciar quando se tem poucos anos de vida, mas a areia que
viria a cobri-los ao rejunte rebocou
minha memória através dos olhos. Ardeu, é claro! Mas jamais esqueci!
Durante décadas esses blocos de
concreto viram as gerações sobrepor-lhes o peso, vencer os anos e dar-lhes
novas crianças que jamais viram a Rua de Belo horizonte (hoje Rua Tancredo
Neves) descalçada.
Lembro-me de minha Vó Dora a
ralhar com uma tropa de lenha, que ia deixando o frescor de seu esterco nos
blocos recém assentados defronte nossas casas. Inerte aos seus xingamentos, as
mulinhas desfilavam cagando.
Com o passar dos anos a minha
casa colorida ganhou varanda e cores mais sóbrias. Poltronas confortáveis de
frente para a mesma rua, já asfaltada, convidam a uma desanuviada da mente entre a fumaça de um
cigarro e outro.
Como as crianças crescem
depressa! Como os carros passam depressa!Como o tempo passa depressa! Os velhos
não. Os velhos passam devagar... Às vezes cabisbaixos. Sabem que a pressa é
desnecessária e que, pra onde se vai tem tempo. Todo tempo do mundo!
O
sino da capela de São Miguel
emudeceu. Os galos emudeceram nos
quintais. Os quintais já nem existem, assim como os jardins da casa dos avós.
As pessoas quase não se saúdam,
embora se conheçam.
Pela varanda o tempo passa imune
às vontades e leva consigo as visões de outrora, mas não as lembranças...
Quem é essa moça que passa?
Sobre a fugacidade do tempo. quem é mesmo a moça que passa?
ResponderExcluirjussara melo