Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

domingo, 13 de outubro de 2013

Pela Varanda






A velha rua de minério vermelho ganhou nova cara com calçamento em palelepípedos. Palavra difícil de se pronunciar quando se tem poucos anos de vida, mas a areia que viria a cobri-los ao rejunte  rebocou minha memória através dos olhos. Ardeu, é claro! Mas jamais esqueci!

Durante décadas esses blocos de concreto viram as gerações sobrepor-lhes o peso, vencer os anos e dar-lhes novas crianças que jamais viram a Rua de Belo horizonte (hoje Rua Tancredo Neves) descalçada.

Lembro-me de minha Vó Dora a ralhar com uma tropa de lenha, que ia deixando o frescor de seu esterco nos blocos recém assentados defronte nossas casas. Inerte aos seus xingamentos, as mulinhas desfilavam cagando.

Com o passar dos anos a minha casa colorida ganhou varanda e cores mais sóbrias. Poltronas confortáveis de frente para a mesma rua, já asfaltada, convidam a uma  desanuviada da mente entre a fumaça de um cigarro e outro.

Como as crianças crescem depressa! Como os carros passam depressa!Como o tempo passa depressa! Os velhos não. Os velhos passam devagar... Às vezes cabisbaixos. Sabem que a pressa é desnecessária e que, pra onde se vai tem tempo. Todo tempo do mundo!

O  sino  da capela de São Miguel emudeceu. Os galos  emudeceram nos quintais. Os quintais já nem existem, assim como os jardins da casa dos avós.

As pessoas quase não se saúdam, embora se conheçam.

Pela varanda o tempo passa imune às vontades e leva consigo as visões de outrora, mas não as lembranças...

Quem é essa moça que passa?

Um comentário:

  1. Sobre a fugacidade do tempo. quem é mesmo a moça que passa?

    jussara melo

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