Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

In Extremis



Saudade Crônica (ou Crônica da Saudade)

Nos últimos dias, a despeito de um merecido descanso, agarrei um modo profundo de repensar a vida... Sobrevieram-me sentimentos confusos, doces, amargos, estimulantes, interrogativos, novos, derradeiros. Todo antagonismo próprio de quem pensa. E logo, existe.

Reli alguns poemas meus e três excertos poéticos levaram-me a escritura deste texto: 1 – “ A angustia dói”; 2 – “Sou fraca pra dor e aquebrantada de solidão”; 3 – “Sofro de saudade antecipada”.

Quantas e quantas vezes somos acometidos por dores que não são físicas, mas doem? Quantas vezes sofremos mesmo não sabendo discernir o que é angustia e o que é saudade? Não seria um tipo de doença?

Por definição, uma Doença crônica é uma doença que não é resolvida num tempo curto, definido, usualmente, em três meses. As doenças crônicas são doenças que não põem em risco a vida da pessoa num prazo curto, logo não são emergências médicas. No entanto, elas podem ser extremamente sérias, e várias doenças crônicas, como por exemplo, certos tipos de câncer, causam morte certa.

Seria a saudade uma doença crônica, uma vez que, comumente, dura e dura e dura...?
No dicionário Aurélio, saudade significa: “Lembrança nostálgica e ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia”. “Pesar pela ausência de alguém que nos é querido”.

Como sentimento ou sintoma, sua existência é global, convivemos com ele diariamente. Já como vocábulo não. Apenas a nossa Língua Portuguesa se atreveu a defini-la e traduzi-la , em virtude de sua riqueza semântica. Temos o privilégio de sentir tudo o que pode ser entendido, mundialmente, como saudade e definir tudo em uma única palavra: saudade!

Nenhuma outra língua, por mais que tenha usado de recursos lingüísticos e vocabulares, conseguiu expressar com precisão seu real significado.

Mas a saudade não escolhe povos ou línguas! Ela existe. Simplesmente existe. De repente um cheiro, uma música, uma fotografia podem arrancar dos nossos corações um suspiro, uma lagrima de saudade, um rio de dor, o desejo desesperado do reencontro!

E a gente, a confirmar a Bilac, “Certo perdeste o senso!” e a desejar, no íntimo “Nunca morrer assim, num dia assim! De um sol assim...”

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