Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sábado, 23 de abril de 2011

Contemplação


Admiro as mulheres naturais... Cara lavada, unhas sem esmaltes, sobrancelhas grossas, cabelos presos num rabo de cavalo e apenas dois ou três grampos a segurar-lhes uns fios arrebentados.

As mulheres naturais se querem enrubescer um pouco as maçãs do rosto tascam-lhes uns beliscões nas bochechas e mordem os lábios para chamar-lhes o sangue e assegurar-lhes o tom avermelhado. E buço. Sempre um buço espesso quase podendo ser chamado de bigodes.

Ah... As mulheres naturais possuem uma postura invejável! Equilibram, sem o menor receio, enormes trouxas de roupas sobre a cabeça e não se utilizam das mãos para garantir-lhes o equilíbrio.

Limpam peixes sem reclamar, não se enjoam com o cheiro de galinha sendo depenada com água fervente e tecem longos bordados para o enxoval que não possui perspectivas de uso... Especiais, magníficas, mas meio fora de moda. Estão em extinção.

Contemplo-as como quem contempla fotos antigas de família. Valores muitos já em desuso, mas de uma simplicidade tão linda que nem mesmo a absoluta ausência de vaidade lhes rouba a beleza refletida num espelho d’água.


Admiro as mulheres não-naturais, algumas podem mesmo ser até artificiais. Rosto maquiado logo pela manha, unhas impecavelmente feitas, sobrancelhas pinçadas, cabelos de mega hair escovados e com chapinha, sempre hidratados, batom e blush importados e uma sessão de depilação semanal para eliminar qualquer pelo supérfluo são alguns dos procedimentos básicos para uma caracterização natural da mulher não-natural.

Algumas recorrem à maquiagem permanente, ao silicone e às lipoesculturas... Recursos que as deixam naturalmente mais lindas ainda!

Nem sempre cozinham bem ou estão dispostas a isso, mas a mulher não-natural sabe se produzir maravilhosamente para um jantar romântico em um belo restaurante. A lida diária e assalariada lhes permite esses caprichos.

O equilíbrio sustentado pela mulher não-natural fica a cargo dos saltos altos... Haja treino para garanti-lo! São horas e horas sobre agulhas e plataformas seja no supermercado, no escritório, na praça... Descer do salto, jamais!

Contemplo-as como quem contempla uma revista de estrelas. Valores outros talvez já em desuso, mas de uma gana tão admirável que nem mesmo a absoluta ausência de tempo lhes rouba a vaidade refletida num olhar de contemplação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário