Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sábado, 4 de junho de 2011

A altura da janela*


Perco-mewem pensamentos que retornam à minha infância passada totalmente na velha casa colorida da Rua Belo Horizonte - hoje Tancredo Neves - no Bairro São Miguel...
Apesar de simples, a casa era suficiente para acomodar os meus pais e seus onze filhos, tinha jardins, horta, quintal cheio de frutas... mas o que fazer nestes dias em que parece que o mundo vai se acabar? (Aliás, talvez nem tanta água assim, mas na minha pueril concepção, parecia ser um novo dilúvio.)

Deságuam diversas nuvens juntas, águas muitas que caem sem parar. Onde era o gramado do jardim, forma-se um pequeno lago no qual bóia um barquinho de papel, feito de folha de caderno. O dia parece eterno e do mundo parece ser o fim. Ai... que será de mim que morro de medo de relâmpagos? Essas luzes barulhentas que entrecortam o céu em meio às nuvens cinzentas, choronas e frias ?! Quisera fossem pirilampos em carreiras, voando abraçados à procura de abrigo...

Recordo-me do perigo no exato momento de um raio. Tomo assim a consciência de que vaga-lumes não se abraçam (a propósito, nem têm braços...), são vagarosos e piscam suas luzes - em dias não chuvosos - e que suas luzes são verdes!

Cada pingo que caía nas pequenas poças era como uma piorra que formava numerosos discos que iam aumentando de tamanho ininterruptamente e que, se olhados fixamente, davam a sensação de vertigem.

Tenho a nítida impressão de que estou acompanhada de meu anjo da guarda e peço um favor: que me mande um arco-iris! Daqueles brilhantes e bem coloridos que nos permitem sair de casa para brincar nos leitos secos das enxurradas e lagos recém formados pela lavagem do céu.

A demora em atender-me talvez não consista no fato de eu não merecer, mas sim porque até que todas as luzes que acendem as cores sejam convocadas a voltar à ativa- pois em dias chuvosos somente a cor cinza trabalha, as demais ficam de folga -, demora mesmo! Acredito nisso e, na ponta dos pés tento ampliar meu campo de visão para alem chuva...

Esbarro a cabeça na veneziana verde da janela (por que as janelas são tão altas?)Oh! O meu barquinho naufragou...

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*Texto recuperado. Escrito e publicado por mim em algum lugar e tempo passados. Atualizado para o blog.

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