Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

domingo, 5 de junho de 2011

Tarde


A tarde está bonita e ensolarada. É Domingo e poucos se atrevem a colocar os narizes do lado de fora de casa... Muitos estão tele- hipnotizados pelos programas de auditório ou pelos clássicos do futebol brasileiro. Outros oferecem ao corpo a merecida sesta impossível de ser curtida nos dias de feira. Outros, bem menos, alimentam a alma com uma boa leitura ou uma boa música em qualquer canto da casa. Eu estava fazendoa fazer as duas últimas coisas - que muito me agradam - mas surgiu, não sei de onde, um convidativo cheiro de cigarro, que resolvi acentuar.

Cigarro em uma das mãos e isqueiro na outra, acomodei-me no alpendre para fumar e pude contemplar a tarde que se exibia ao mundo... Um abandono total foi o que testemunhei nas ruas deste Domingo. Nem um carro, nem uma moto, nem uma bicicleta e nem uma pessoa transitavam. Algo deve estar acontecendo, pensei. Onde está todo mundo?

Um beija-flor interrompe meus pensamentos ao chegar muito perto de meus olhos. Isso me assusta! Vi que algumas borboletas coloridas voavam próximo às roseiras de minha mãe e que bem mais no alto, acima delas, voava um outro bando de borboletas brancas.

Tive o ímpeto de apanhar uma, pelo menos uma borboleta! Quando era criança às vezes fazia isso, embora sempre me arrependesse depois. Meu grande sonho, porém era ter - e domar - uma borboleta azul, daquelas enormes que, ao mesmo tempo em que fugia da gente estava a nos perseguir. São lindas!

Impressiona-me até hoje o fascínio que tais borboletas exercem sobre mim... Seduzem e renunciam o tempo todo! Desisti de apanhá-las e voltei a reparar que as coloridas voavam próximo às roseiras e que bem mais no alto, voava o outro bando, o das borboletas brancas. Quem pode acreditar que lagartas aparentemente feias e asquerosas transformam-se em borboletas tão bonitas? É a metáfora paradoxal da natureza!

Enquanto os homens se enfurnam dentro de suas moradas para sonhar, as borboletas deixam as suas com o mesmo propósito! Borboletas e sonhos têm vida curta... Ambos são, geralmente, lindos e frágeis e precisam de liberdade para se realizarem! Sonhos coloridos são mais próximos e alegres, já os brancos são simbolistas, nebulosos, etéreos... Não temem a fragilidade da própria existência e se aventuram em alturas pouco recomendadas.

Os sonhos - e as borboletas - grandes e azuis não se deixam aprisionar com facilidade, nos deixam extasiados por sua beleza e escapam o mais rápido que podem a qualquer tentativa de captura...

Das asas dos sonhos e das borboletas surgem as cores das tardes de domingo, que geralmente não vemos por estarmos imersos em nossos próprios sonhos.

Estes aguardam a liberdade para se fazerem realizar, enquanto as grandes e indomadas borboletas azuis nos projetam para os grandes sonhos.

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*Texto recuperado. Escrito e publicado por mim em algum lugar e tempo passados. Atualizado para o blog.

2 comentários:

  1. Voce tem 2 grandes borboletas azuis e indomadas nos olhos. Elas nos atraem e inspiram em grandes sonhos.
    Meu nome é Armando Diniz, de JMonlevade, e sou fã das suas cronicas.

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  2. BORBOLETAS,BORBOLETAS!!!!!!!!!!!!!E COM ELAS QUE EU ME IDENTIFICO.mARLENE ANGÉLICA

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