Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Cantiga de Bem Dizer


Cresci pedindo a bênção aos mais velhos, aos pais, padrinhos, tios, tias, avós... à doninha da esquina que morreu solteira, ao padre velho da paróquia... Na verdade não pedia a bênção, mas simplesmente “bença”!

Bença, mãe! Bença, Pai! Já vou... E ia feliz, porque Deus certamente ouvia o pedido deles e me abençoava. Os pais bendizem, Deus abençoa! Assim cresci (mais pros lados que pra cima, mas cresci. Pois criança que não pede a bênção, não cresce – dizia a minha avó!)

Quando me vi, estava com apenas 8 anos e já era tia... E bem cedo comecei a bendizer os pequenos, pedindo a Deus que os abençoasse!

O tempo passa, mas certas coisas permanecem em algumas famílias e na minha, o hábito de pedir a bênção não envergonha a ninguém... Nem aos velhos e nem aos novos.
Hoje surpreendeu-me a caçula das sobrinhas, que conta com 5 anos incompletos.

Raramente a ouvimos pedir a bênção, mas estende a mão direita aguardando o rogo divino, beija-nos a face e oferece a bochecha para um beijo habitual. Mas ela quer seu lugar ao sol, quer se posicionar e, a contar pela predisposição dos pais em manter-lhe filha única, tende a não ter sobrinhos a quem abençoar.

Chegou a casa avoterna (casa da avó) e rapidamente tomou as duas cadelas de estimação pela pata direita dianteira, uma por vez, e disse “bença bençoe!” Lindo gesto de bendizer!

Olhamo-nos todos em silêncio. Era isso que ela nos ouvia dizer amiúde... “bença bençoe!” e não “Deus a abençoe”, como realmente falamos. É essa cantilena ao mesmo tempo lenta e rápida que os mineiros – e só os mineiros – possuem.

Embora não tenha compreendido bem as palavras que proferimos, captou bem o seu significado. Grande sujeita que já é, bendiz aos pequeninos.

Bença bençoe todos nós!

2 comentários:

  1. A sobrinha é de Lucely? Fico tão feliz em saber que temos deixado herança, que não nos deixamos levar pelos modismos e que tudo que nossos antepassados nos transmitiram nós assumimos realmente como valores e temos também repassado. Que Deus nos conserve com o coração de criança para continuarmos sensíveis à Sua voz e às Suas inspirações. Abraço grande, Deyse

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